Protocolares

A impessoalidade do formalismo nos conduz
ao aperto formal das mãos vazias.
Apenas o vácuo abraçamos. E, talvez, nem nostálgicos.
Nada mais somos. Apenas fantoches
de quem o Mundo faz deboche.
A perenidade que um dia supomos, esvaiu-se na falta de tempo
das agendas repletas de vidas incompletas.
Mas estamos adestrados e trocamos beijos insipidos,
em honra aos falsos deuses límpidos.
Pessoas comportadas, civilizadas, dirão.
De rostos sérios e isentos de mistérios.
Cínicos e cônscios de nossa covardia,
participamos da elegante hipocrisia
que tudo nos tomou.
Até a antiga dor,
pelo amor que não vingou.
Mas somos pessoas elegantes que sufocam as mágoas.
E no entanto, no fundo, sabemos (como sabem quem nos classifica),
da dor que se sente e do vazio que tudo modifica
quando cada qual segue um caminho desigual.
Todos sabemos, mesmo que disfarcemos,
o quanto ficamos menores
quando os jardins deixam de ser regados
e os poemas são apagados.
Todos sabemos, mas nada dizemos.
É preciso cumprir o protocolo e seguir as formalidades.
E, sobretudo, é preciso fingir que se tem felicidade.
É imperativo que se deixe os "bites" e "bytes" devassarem
o que foi intimidade. Deixamos de ser individualidades.
É necessário plantar um cinzento edíficio
e exercer a burrice como ofício.
Entremos no "Mundo Fashion". Sejamos antenados.
Já não se deve chorar um amor fracassado.
Em breve as "Redes" irão te repor "na pista"
onde tu conhecerá quem sempre te esperou.
Enquanto não, aprendamos a dormir sem ninguém ao lado
e a despertar como um mero autômato religado.
Esqueçamos o Passado.
O protocolo é o nosso legado.

Submited by

Thursday, May 2, 2013 - 17:24

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 29 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Sadness A Canção de Alepo 0 8.301 10/01/2016 - 22:17 Portuguese
Poesia/Meditation Nada 0 6.996 07/07/2016 - 16:34 Portuguese
Poesia/Love As Manhãs 0 7.005 07/02/2016 - 14:49 Portuguese
Poesia/General A Ave de Arribação 0 7.186 06/20/2016 - 18:10 Portuguese
Poesia/Love BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE 0 8.952 06/06/2016 - 19:30 Portuguese
Prosas/Others A Dialética 0 12.682 04/19/2016 - 21:44 Portuguese
Poesia/Disillusion OS FINS 0 7.753 04/17/2016 - 12:28 Portuguese
Poesia/Dedicated O Camareiro 0 9.946 03/16/2016 - 22:28 Portuguese
Poesia/Love O Fim 1 7.111 03/04/2016 - 22:54 Portuguese
Poesia/Love Rio, de 451 Janeiros 1 11.922 03/04/2016 - 22:19 Portuguese
Prosas/Others Rostos e Livros 0 10.878 02/18/2016 - 20:14 Portuguese
Poesia/Love A Nova Enseada 0 7.146 02/17/2016 - 15:52 Portuguese
Poesia/Love O Voo de Papillon 0 6.415 02/02/2016 - 18:43 Portuguese
Poesia/Meditation O Avião 0 7.553 01/24/2016 - 16:25 Portuguese
Poesia/Love Amores e Realejos 0 8.794 01/23/2016 - 16:38 Portuguese
Poesia/Dedicated Os Lusos Poetas 0 7.093 01/17/2016 - 21:16 Portuguese
Poesia/Love O Voo 0 6.916 01/08/2016 - 18:53 Portuguese
Prosas/Others Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico 0 13.489 01/07/2016 - 20:31 Portuguese
Poesia/Love Revellion em Copacabana 0 6.372 12/31/2015 - 15:19 Portuguese
Poesia/General Porque é Natal, sejamos Quixotes 0 8.276 12/23/2015 - 18:07 Portuguese
Poesia/General A Cena 0 7.860 12/21/2015 - 13:55 Portuguese
Prosas/Others Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. 0 12.070 12/20/2015 - 19:17 Portuguese
Poesia/Love Os Vazios 0 10.869 12/18/2015 - 20:59 Portuguese
Prosas/Others O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. 0 9.917 12/15/2015 - 14:59 Portuguese
Poesia/Love A Hora 0 10.304 12/12/2015 - 16:54 Portuguese