Menino de Rua
![](/sites/default/files/membros/user1195/menino%202.jpg)
Espremi o mundo em busca do sumo,
mas não achei nem o rumo.
Nunca fui na Escola;
meu padrasto, faz-me de esmola.
E a fome me amola até sentir o baque da cola.
Limpo pára-brisas e rezo sem crença.
Sou sujo de nascença e de feia presença.
(No "tecido social" eu sou a doença,
como diz qualquer Dr. Excelência)
Peço ajuda à dona-tia-senhora
(louca para fugir sem demora)
e do seu medo eu lucro um trocado,
que logo gasto na "biqueira" ao lado.
Da boca sem dente, vem a vontade de ser gente.
Da boca banguela vem a vontade de sair da favela.
De ter um "cano" na fivela, arroz na panela
e até o amor da moça donzela
que peregrina em Santiago de Compostela.
Do meu nariz escorre suja coriza,
do macilento rosto despenca raiva e desgosto.
Eu sou o oposto.
Sou menino do Brasil e durmo sob o azul-anil
até que me acorde o cão-pastor do canil.
Levo a vida fugindo de "bala perdida"
e da santa caridosa bandida.
E sempre escuto: mude de vida!
Como se existisse tal saída.
Como se aqui, eu estivesse por escolha
dessa minha vista caolha.
Já lustrei sapatos e calçadas,
tomei todas as burguesas "porradas"
e não quero acreditar que isso ainda vai retornar.
Olham-me como ameaça.
Parido por desgraça de uma barriga cheia de cachaça.
Mas o que eu queria era ser só mais um.
Desses, que não metem medo e a quem se confia um segredo.
Desses, que choram pelo Poeta em degredo
ou das dores do samba-enredo.
É coisa pouca: casa, afeto, comida e roupa.
Poder dispensar a caridosa sopa,
servida pelo moço que quer o troco:
ser um Santo (do pau oco).
Pois nessa vida nada se dá. Só se troca.
É o medo de acabar numa maloca, vendendo tapioca.
Mas agora, SENHOR, licença. O sinal fechou.
O esperto não vacilou,
mas a moça pequena só me olha com pena.
Por isso irá morrer.
Não sei assoprar. Só morder.
Uso o "estoque" como baliza e o sangue não me horroriza.
Sou bicho-fera: se bobear, "já era".
Mas não se preocupe meu "bom burguês".
Da Policia eu sou freguês e Posseiro em qualquer xadrês.
Logo ficarei sob outra tutela, sem velório, coroa e vela.
Não deixarei saudades e nem levarei amizades.
Irei sozinho na morte, como só, eu fui na vida.
Uma rebarba atrevida, dessa sociedade falida.
mas não achei nem o rumo.
Nunca fui na Escola;
meu padrasto, faz-me de esmola.
E a fome me amola até sentir o baque da cola.
Limpo pára-brisas e rezo sem crença.
Sou sujo de nascença e de feia presença.
(No "tecido social" eu sou a doença,
como diz qualquer Dr. Excelência)
Peço ajuda à dona-tia-senhora
(louca para fugir sem demora)
e do seu medo eu lucro um trocado,
que logo gasto na "biqueira" ao lado.
Da boca sem dente, vem a vontade de ser gente.
Da boca banguela vem a vontade de sair da favela.
De ter um "cano" na fivela, arroz na panela
e até o amor da moça donzela
que peregrina em Santiago de Compostela.
Do meu nariz escorre suja coriza,
do macilento rosto despenca raiva e desgosto.
Eu sou o oposto.
Sou menino do Brasil e durmo sob o azul-anil
até que me acorde o cão-pastor do canil.
Levo a vida fugindo de "bala perdida"
e da santa caridosa bandida.
E sempre escuto: mude de vida!
Como se existisse tal saída.
Como se aqui, eu estivesse por escolha
dessa minha vista caolha.
Já lustrei sapatos e calçadas,
tomei todas as burguesas "porradas"
e não quero acreditar que isso ainda vai retornar.
Olham-me como ameaça.
Parido por desgraça de uma barriga cheia de cachaça.
Mas o que eu queria era ser só mais um.
Desses, que não metem medo e a quem se confia um segredo.
Desses, que choram pelo Poeta em degredo
ou das dores do samba-enredo.
É coisa pouca: casa, afeto, comida e roupa.
Poder dispensar a caridosa sopa,
servida pelo moço que quer o troco:
ser um Santo (do pau oco).
Pois nessa vida nada se dá. Só se troca.
É o medo de acabar numa maloca, vendendo tapioca.
Mas agora, SENHOR, licença. O sinal fechou.
O esperto não vacilou,
mas a moça pequena só me olha com pena.
Por isso irá morrer.
Não sei assoprar. Só morder.
Uso o "estoque" como baliza e o sangue não me horroriza.
Sou bicho-fera: se bobear, "já era".
Mas não se preocupe meu "bom burguês".
Da Policia eu sou freguês e Posseiro em qualquer xadrês.
Logo ficarei sob outra tutela, sem velório, coroa e vela.
Não deixarei saudades e nem levarei amizades.
Irei sozinho na morte, como só, eu fui na vida.
Uma rebarba atrevida, dessa sociedade falida.
Dedicado ao Dr. Bruno Baghin, cuja jovem e lúcida coragem renovam a minha esperança.
Procução e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Relações com o Público, Rio de Janeiro, inverno de 2014.
Submited by
Monday, August 4, 2014 - 15:16
Poesia :
- Login to post comments
- 1844 reads
Add comment
Login to post comments
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | A Canção de Alepo | 0 | 7.230 | 10/01/2016 - 21:17 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Nada | 0 | 6.074 | 07/07/2016 - 15:34 | Portuguese | |
Poesia/Love | As Manhãs | 0 | 5.917 | 07/02/2016 - 13:49 | Portuguese | |
Poesia/General | A Ave de Arribação | 0 | 6.245 | 06/20/2016 - 17:10 | Portuguese | |
Poesia/Love | BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE | 0 | 7.732 | 06/06/2016 - 18:30 | Portuguese | |
Prosas/Others | A Dialética | 0 | 11.573 | 04/19/2016 - 20:44 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | OS FINS | 0 | 6.780 | 04/17/2016 - 11:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | O Camareiro | 0 | 8.122 | 03/16/2016 - 21:28 | Portuguese | |
Poesia/Love | O Fim | 1 | 6.184 | 03/04/2016 - 21:54 | Portuguese | |
Poesia/Love | Rio, de 451 Janeiros | 1 | 11.106 | 03/04/2016 - 21:19 | Portuguese | |
Prosas/Others | Rostos e Livros | 0 | 9.029 | 02/18/2016 - 19:14 | Portuguese | |
Poesia/Love | A Nova Enseada | 0 | 6.330 | 02/17/2016 - 14:52 | Portuguese | |
Poesia/Love | O Voo de Papillon | 0 | 5.867 | 02/02/2016 - 17:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O Avião | 0 | 6.426 | 01/24/2016 - 15:25 | Portuguese | |
Poesia/Love | Amores e Realejos | 0 | 7.977 | 01/23/2016 - 15:38 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os Lusos Poetas | 0 | 6.463 | 01/17/2016 - 20:16 | Portuguese | |
Poesia/Love | O Voo | 0 | 6.174 | 01/08/2016 - 17:53 | Portuguese | |
Prosas/Others | Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico | 0 | 9.328 | 01/07/2016 - 19:31 | Portuguese | |
Poesia/Love | Revellion em Copacabana | 0 | 5.857 | 12/31/2015 - 14:19 | Portuguese | |
Poesia/General | Porque é Natal, sejamos Quixotes | 0 | 6.828 | 12/23/2015 - 17:07 | Portuguese | |
Poesia/General | A Cena | 0 | 6.905 | 12/21/2015 - 12:55 | Portuguese | |
Prosas/Others | Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. | 0 | 10.333 | 12/20/2015 - 18:17 | Portuguese | |
Poesia/Love | Os Vazios | 0 | 9.464 | 12/18/2015 - 19:59 | Portuguese | |
Prosas/Others | O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. | 0 | 8.303 | 12/15/2015 - 13:59 | Portuguese | |
Poesia/Love | A Hora | 0 | 9.287 | 12/12/2015 - 15:54 | Portuguese |
Comments
R: MENINO DE RUA
UMA..REALIDADE..MUITO..TRISTE..AMIGO..FÁBIO
HÁ MUITO QUE AQUI NÃO VINHA...ABRAÇO