Yumi do bordel

O vagão semi vazio,
leva apenas duas lágrimas
e os olhos de onde escorreram
e a alma de onde nasceram.
No espaço pouco do corpo frágil,
a dor balança como se açoitada fosse
e Yumi ignora se ainda vive.

As janelas embaçadas não podem esconder
as luzes vermelhas do bordel cambaleante.
Dentro, jovens putas sorriem para homens velhos
e não sonham, pois a Pedra de Brisa
é sonho negado.

Yumi, a das lágrimas e a das coxas abertas
e a do vagão semi vazio
e a da vida no bordel
entre os homens vermelhos de velhas luzes,
cambaleia por longas corredeiras e íngremes ladeiras
à frente do berro de cadela, de vaca amarela,
de lanterna chinesa banguela
de abat-jour de meia tigela
e de japa piranha rameira
sem eira, nem beira.

E no alto, um Pastor vocifera contra o mundo
e anuncia o fim de Satã,
o deus vivo dos homens ruins.
E ao Deus morto, dos homens bons
pede a desistência doutro Gênese,
pois faltarão gregos para tantas tragédias
e para secar as lágrimas de Yumi,
sentada no vagão semi vazio,
com as coxas abertas,
à espera dos velhos vermelhos
que chegam cambaleantes
do bordel em que nasceu o Pastor.

O mundo não é o tanto que se alardeia.
É só um quarto de parede e meia.

Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de Comunicação Social. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Thursday, September 25, 2014 - 13:17

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 16 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General A Dor 0 1.819 12/11/2015 - 13:27 Portuguese
Poesia/General Quem dera 0 2.693 12/08/2015 - 18:30 Portuguese
Poesia/Love A Gueixa 0 1.915 11/25/2015 - 13:49 Portuguese
Prosas/Others Kant e o Idealismo alemão 0 9.167 11/21/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/General Vidas 0 2.197 11/08/2015 - 13:57 Portuguese
Poesia/Love Tempos 0 678 11/07/2015 - 13:21 Portuguese
Poesia/General Nihil 0 1.522 11/05/2015 - 13:43 Portuguese
Poesia/Love A Moça e o Luar 0 2.274 11/02/2015 - 14:05 Portuguese
Poesia/Sadness A Atriz 0 2.086 10/24/2015 - 12:37 Portuguese
Prosas/Others Lula, Dilma, Cunha e a "Banalidade do Mal" 0 3.815 10/21/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Dedicated Mestres 0 2.164 10/15/2015 - 13:24 Portuguese
Poesia/Dedicated As Cores de Frida 0 2.109 10/12/2015 - 15:24 Portuguese
Poesia/Love Crepúsculo 0 2.301 10/08/2015 - 14:23 Portuguese
Poesia/Love A Inquietude 0 3.046 09/20/2015 - 15:44 Portuguese
Poesia/Sadness A Canção de Budapeste 0 3.235 09/18/2015 - 14:13 Portuguese
Prosas/Others AS BODAS DE FÍGARO - Óperas, guia para iniciantes. 0 3.682 09/18/2015 - 00:10 Portuguese
Poesia/General Húngara 0 1.706 09/12/2015 - 16:07 Portuguese
Prosas/Others ORLANDO FURIOSO, Vivaldi - Óperas, guia para iniciantes 0 2.225 09/10/2015 - 20:39 Portuguese
Poesia/Sadness O Menino Morto 0 1.601 09/03/2015 - 14:23 Portuguese
Prosas/Others FIDÉLIO, Beethoven - Óperas, guia para iniciantes 0 2.877 09/03/2015 - 13:36 Portuguese
Prosas/Others DR. FAUSTO, Gounod - Óperas, guia para iniciantes 0 2.777 09/01/2015 - 13:37 Portuguese
Prosas/Others NORMA, Bellini - Óperas, guia para iniciantes 0 3.359 08/27/2015 - 20:27 Portuguese
Prosas/Others OTELO, Verdi - Óperas, guia para iniciantes. 0 3.000 08/24/2015 - 20:14 Portuguese
Poesia/Dedicated A Canção de Roma 0 2.471 08/23/2015 - 16:37 Portuguese
Prosas/Others TURANDOT, Puccini - Óperas, guia para iniciantes 0 2.408 08/20/2015 - 23:43 Portuguese