Rousseau e o Romantismo - Parte VIII - A Perseguição Política


A princípio, Rousseau não deu muita importância à ameaça de prisão e foi com certa relutância que ele atendeu ao apelo da Mme. De Luxemburgo para que fugisse de Paris com a maior urgência.

Inicialmente pensou em ir para Genebra, mas devido à má recepção que lá foi dada ao seu livro “Discurso sobre a desigualdade entre os homens”, ele desistiu da ideia e passou a considerar a hipótese de mudar-se para o território de Berna, também na Suíça, na cidade de Yuerdum. E, assim, rumou para essa localidade e se abrigou na casa do amigo, M. Roguin, contando, segundo alguns, com a conivência dos oficiais franceses que deveriam prendê-lo antes que fugisse.

Sentindo-se confortável e seguro na nova vivenda, Rousseau começou a providenciar a sua instalação definitiva, mas o Congresso de Berna também o condenou e ordenou que fosse preso.

Teve, então, que empreender nova fuga e aceitou o convite de Mme. Boy de La Tour e se refugiou em Motiers, Condado de Neuchâtel, sob a proteção do Imperador Frederico, o Grande. Ali, trabalhou na revisão de seu “Dictionnaire de Musique” e no esboço de “Memória”, enquanto travava relações com o Mal. George Keith, refugiado escocês, e com outros intelectuais perseguidos que se ocultavam sob o manto do Imperador filósofo.

As condenações, as ordens de prisão, a queima de seus livros em praça pública e as outras manifestações hostis que foram realizadas, mostraram-lhe a magnitude do sentimento negativo que a Suíça lhe dedicava. Um conjunto nefasto que lhe causou certa amargura, mas que, também, deu-lhe o material necessário para escrever uma de suas obras mais célebres “Le Levite d´Éphraim”.

E foi por conta dessa mágoa que ele escreveu, em 1763, ao Conselho de Genebra renunciando à sua cidadania. O órgão oficial respondeu-lhe através de um Artigo intitulado “Lettrés de la Champagne”, ao qual, ele, ironicamente, retrucou com outro Artigo que chamou de “Lettré de la Montagne”.
Ainda em 1763 ele sofreu nova condenação, dessa feita ordenada pelo Arcebispo de Paris; e em 1764 a campanha difamatória prosseguiu e ele passou a ser hostilizado através de um panfleto anônimo1, “Les Sentiment des Citoyens”, que o acusava de ser um pai desnaturado, um hipócrita e um amigo ingrato.

Ao contrário dos anteriores, esse novo insulto causou-lhe muita mágoa e foi, então, que ele decidiu escrever a sua autobiografia, “Confissões”, para se defender dos ataques que sofria, apresentando a sua versão dos fatos. Ele já tentara algo parecido quando redigiu um pequeno livro chamado de “Vision de Pierre de la Montagne, dit le voyant”, mas sem obter a repercussão que desejava.

Entretanto, não obstante os ataques que sofria, Jean Jacques continuou sendo requisitado por pessoas das várias classes sociais, econômicas e intelectuais que nele buscavam as respostas para as suas questões.

Todavia, nem esse apreço foi suficiente para minorar o seu sofrimento e ele decidiu aceitar o conselho de uma amiga para mudar-se para um novo país, como veremos no próximo capítulo.

Nota do Autor1 - Soube-se depois que a autoria do panfleto era de Voltaire.

Lettré, l´art et la culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Saturday, October 25, 2014 - 20:30

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 25 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General A Dor 0 2.514 12/11/2015 - 13:27 Portuguese
Poesia/General Quem dera 0 3.256 12/08/2015 - 18:30 Portuguese
Poesia/Love A Gueixa 0 2.424 11/25/2015 - 13:49 Portuguese
Prosas/Others Kant e o Idealismo alemão 0 10.392 11/21/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/General Vidas 0 2.657 11/08/2015 - 13:57 Portuguese
Poesia/Love Tempos 0 1.008 11/07/2015 - 13:21 Portuguese
Poesia/General Nihil 0 2.038 11/05/2015 - 13:43 Portuguese
Poesia/Love A Moça e o Luar 0 2.720 11/02/2015 - 14:05 Portuguese
Poesia/Sadness A Atriz 0 3.143 10/24/2015 - 12:37 Portuguese
Prosas/Others Lula, Dilma, Cunha e a "Banalidade do Mal" 0 5.387 10/21/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Dedicated Mestres 0 2.619 10/15/2015 - 13:24 Portuguese
Poesia/Dedicated As Cores de Frida 0 2.394 10/12/2015 - 15:24 Portuguese
Poesia/Love Crepúsculo 0 2.831 10/08/2015 - 14:23 Portuguese
Poesia/Love A Inquietude 0 3.386 09/20/2015 - 15:44 Portuguese
Poesia/Sadness A Canção de Budapeste 0 3.476 09/18/2015 - 14:13 Portuguese
Prosas/Others AS BODAS DE FÍGARO - Óperas, guia para iniciantes. 0 5.897 09/18/2015 - 00:10 Portuguese
Poesia/General Húngara 0 2.471 09/12/2015 - 16:07 Portuguese
Prosas/Others ORLANDO FURIOSO, Vivaldi - Óperas, guia para iniciantes 0 2.783 09/10/2015 - 20:39 Portuguese
Poesia/Sadness O Menino Morto 0 2.048 09/03/2015 - 14:23 Portuguese
Prosas/Others FIDÉLIO, Beethoven - Óperas, guia para iniciantes 0 4.744 09/03/2015 - 13:36 Portuguese
Prosas/Others DR. FAUSTO, Gounod - Óperas, guia para iniciantes 0 3.326 09/01/2015 - 13:37 Portuguese
Prosas/Others NORMA, Bellini - Óperas, guia para iniciantes 0 3.771 08/27/2015 - 20:27 Portuguese
Prosas/Others OTELO, Verdi - Óperas, guia para iniciantes. 0 4.447 08/24/2015 - 20:14 Portuguese
Poesia/Dedicated A Canção de Roma 0 3.032 08/23/2015 - 16:37 Portuguese
Prosas/Others TURANDOT, Puccini - Óperas, guia para iniciantes 0 3.799 08/20/2015 - 23:43 Portuguese