O fantasma da velha escola - 16

Marcão e seus pais voltaram para casa sem trocar nenhuma palavra. Ao entrarem, o pai disse:
-A gente se mata para educar os filhos e eles fazem isso! Marcos, como você foi fazer um ritual pego da Internet? Viu o perigo?
-Eu queria ter paz, pai.
-E se a menina tivesse morrido, meu Deus? Eu nunca pensei que você fosse capaz de ser tão egoísta, inconsequente e covarde! Eu vou gastar um dinheirão para pagar os vidros quebrados, mas saiba de uma coisa: você não vai ganhar seu sonhado smartphone, para ajudar a pagra o prejuízo! E esqueça também a viagem de férias!
-Pois quer saber pai? Pode parar de me dar mesada, roupa e tudo o mais! Todas as noites, o José Afonso me assombra em sonhos, acusando-me de covarde e traidor! O que é ficar sem dinheiro? Não é nada, comparado a não ter paz e não poder dormir! Eu posso ficar sem mesada, smartphone e cartão de crédito, mas não posso ficar sem paz!
Quase em lágrimas, Marcão saiu de perto dos pais, trancando-se no quarto. A mãe chorou e o marido a abraçou, lamentando:
-O que fizemos de errado, meu Deus? O que aconteceu? Ele não quis aprender nada do que ensinamos?
-Querido, que faremos quanto à história do fantasma? José Afonso está assombrando o nosso filho e ele não está suportando!
-Não sei, meu bem. Sei apenas que estou totalmente perdido.
Ajoelhado no chão do seu quarto, Marcão escutou a conversa dos pais e falou:
-Muito bem, José Afonso, você conseguiu, não foi? Acabou com a minha vida! Que você pode dizer? Que eu mereço, porque não presto? Está certo, eu não presto, mas você também não, seu fantasma desgraçado! Se eu soubesse que você era capaz de ser tão vingativo e cruel, eu nunca teria sido seu amigo! Eu odeio você, seu fantasma de merda!
Passou o resto da noite jogado na cama, pensando em como tudo que começara com uma brincadeira tola destruíra todos os alicerces de sua vida. Quem confiaria nele sabendo o que ele fizera? Este episódio da sua vida se tornara uma nódoa, como as marcas na pele de um leproso ou a cicatriz de um ferimento profundo. Nem seus pais confiavam mais nele. Haviam passado a tê-lo, e com razão, por um covardde incapaz de socorrer os amigos e de enfrentar a responsabilidade por seus atos.
"Meu Deus, eu não consigo pensar que vou viver com isso o resto da minha vida! Antes morrer para me libertar deste peso!"
Não! No que ele estivera pensando? Em se matar? Estaria caindo em uma artimanha de José Afonso ou com vontade de ceder a uma tentação covarde? Encolheu-se, chorando.

Submited by

Monday, August 31, 2015 - 19:15

Prosas :

No votes yet

Atenéia

Atenéia's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 7 weeks ago
Joined: 03/21/2011
Posts:
Points: 2453

Add comment

Login to post comments

other contents of Atenéia

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Prosas/Tristeza A morte de Sofia 3.ª parte 0 2.253 03/11/2015 - 15:00 Portuguese
Poesia/Gothic The graves 0 4.567 03/07/2015 - 19:33 English
Poesia/Love We didn't have time 0 3.420 03/07/2015 - 19:27 English
Prosas/Tristeza A morte de Sofia 2.ª parte 0 2.833 02/10/2015 - 13:42 Portuguese
Poesia/Gothic Sonhos mórbidos 0 1.662 02/10/2015 - 13:20 Portuguese
Prosas/Mistério A morte de Sofia 1. ª parte 0 2.061 02/06/2015 - 14:14 Portuguese
Poesia/Meditation Lugares 1 1.875 01/13/2015 - 22:30 Portuguese
Poesia/Fantasy Borboletas 0 1.601 01/09/2015 - 01:13 Portuguese
Poesia/Gothic Gargalhadas 0 1.495 01/06/2015 - 13:48 Portuguese
Poesia/Disillusion Aquele amor 0 1.998 01/06/2015 - 13:45 Portuguese
Poesia/Love Tú no quieres 0 1.327 01/04/2015 - 11:46 Spanish
Poesia/General We should have learned 0 2.811 01/04/2015 - 11:43 English
Poesia/Thoughts Propósito 0 1.265 01/03/2015 - 20:01 Portuguese
Poesia/Sadness Esperar 0 1.353 01/03/2015 - 19:24 Portuguese
Poesia/Thoughts Há tanto 0 2.536 01/01/2015 - 12:52 Portuguese
Poesia/Love Uma entre muitos 0 1.690 01/01/2015 - 12:48 Portuguese
Críticas/Books Viajando no veleiro 0 2.531 12/24/2014 - 19:34 Portuguese
Prosas/Contos Anjos sem asas 1.ª parte 0 2.530 12/15/2014 - 10:30 Portuguese
Poesia/Fantasy Sou a... 0 2.749 12/15/2014 - 10:12 Portuguese
Críticas/Movies Um festival de violência gratuita 0 4.157 12/13/2014 - 16:23 Portuguese
Críticas/Movies As duas versões de Halloween 0 2.216 12/11/2014 - 20:13 Portuguese
Poesia/Gothic Poison in my soul 0 2.693 12/07/2014 - 10:10 English
Poesia/Sadness You should be dreaming 0 3.953 12/07/2014 - 10:06 English
Poesia/Gothic Cantemos o mistério 0 1.305 12/04/2014 - 14:01 Portuguese
Poesia/Gothic Cantemos o mistério 0 1.282 12/04/2014 - 14:01 Portuguese