Desejos e frustrações

Não é raro nos frustrarmos quando nossos desejos e expectativas se chocam com as limitações e exigências da vida, como bem escreveu Mary MacCarthy, no seu belo romance O Grupo, ambientado em Nova York e escrito em 1963. O livro tem este título por retratar a vida de oito jovens graduadas pela Universidade de Vassar, instituição caríssima e que, à época, destinava-se exclusivamente a moças.
As oito moças são Kay Leiland Strong, Elinor Eastlake (Lakey), Mary Prothero (Pokey), Helena Davison, Dottie Renfrew, Polly Andrews, Libby MacAusland e Priss Hartshorn, todas cheias de sonhos e curiosidades para começar as suas vidas após a graduação e Mary, com brilhantismo, retrata como a vida dessas mulheres vai se desenrolando ao longo dos próximos sete anos, tratando de temas como a perda da virgindade, métodos contraceptivos, insatisfação sexual, psicanálise, depressão e lesbianismo (tabus para a época em que a trama é situada, os anos trinta), mostrando a vida americana quando os Estados Unidos tentavam se recuperar da quebra da Bolsa de Valores e como esse desequilíbrio financeiro influenciava a vida das pessoas nos detalhes mais comezinhos.
Além desses detalhes, a autora mostra a adesão de alguns personages ao comunismo e aborda a simpatia que alguns americanos tinham pelo stalinismo e pelo fascismo. Pode-se dizer que O Grupo é, em parte, um romance autobiográfico, visto que Mary MacCarthy, oriunda de uma família abastada, teve educação esmerada e, assim como as oito moças do grupo, diplomou-se em Vassar. Outro detalhe interessante é que Kay Strong, a primeira do grupo a perder a virgindade e casar, desposa Harald Petersen, joven com pretensões de se tornar autor teatral e a própria Mary casou com um ator de teatro que ambicionava se tornar teatrólogo. Mary MacCarthy também precisou se exilar em Paris por simpatizar com o comunismo.
Acompanhando as vidas das moças, vamos vendo como os sonhos por elas acalentados vão se frustrando e como elas tropeçam na busca pela felicidade: Kay e Harald vão mergulhando num casamento desastrado ao passo que ele não alcança sucesso como dramaturgo, Dottie se envolve com um artista boêmio para logo se frustrar, Libby tem ambições literárias mas lhe falta talento, Polly tem um caso com um homem que não tem coragem de se divorciar.
As personangens vão avançando à medida que a América, lutando para se recuperar da crise econômica gerada pela Grande Depressão, torna-se palco de luta de classes e discussões políticas entre os Democratas, Republicanos, stalinistas, comunistas e nazifascistas, como podemos ver no conflito entre Priss, que é simpática ao Partido Democrata, e seu marido Sloan, pediatra conservador e republicano.
Um ponto sensível abordado pela autora é o da maternidade, ao contrabalançar teorias sobre como cuidar dos filhos, discutindo se se deve amamentá-los ou dar mamadeira, desmitificando a ideia de que esse é um período mágico.
Mostrando de forma hábil diferentes aspectos da vida americana desde 1933 até a época da 2.ª Guerra Mundial, Mary MacCarthy  retratou traços cotidianos de um tempo importante da História dos Estados Unidos, ensinando que as vidas das pessoas estão diretamente ligadas ao que está acontecendo, de forma que seus destinos não podem deixar de ser afetados pelas novas tendências políticas, ideologias e modas.

Submited by

Sunday, August 28, 2016 - 10:38

Críticas :

No votes yet

Atenéia

Atenéia's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 8 years 14 weeks ago
Joined: 03/21/2011
Posts:
Points: 2453

Add comment

Login to post comments

other contents of Atenéia

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Para o que vivemos 0 3.276 10/26/2016 - 16:13 Portuguese
Poesia/Meditation Os ecos da alma 0 3.200 10/25/2016 - 23:04 Portuguese
Poesia/Thoughts Sua vida 0 3.389 10/21/2016 - 16:49 Portuguese
Poesia/Sadness Não me faça sentir assim 0 11.185 10/18/2016 - 21:57 Portuguese
Poesia/General Afasta-te 0 3.556 10/04/2016 - 14:08 Portuguese
Poesia/General Até quando 0 4.272 10/04/2016 - 14:05 Portuguese
Poesia/General Meu corpo não lhe pertence 0 2.796 09/30/2016 - 20:04 Portuguese
Poesia/Disillusion You don't love me 0 8.158 09/30/2016 - 19:59 English
Poesia/Meditation Give me strength 0 7.167 09/13/2016 - 19:36 English
Poesia/Meditation O que fazer 0 2.928 09/12/2016 - 14:18 Portuguese
Poesia/General Aqueles olhos 0 3.077 09/12/2016 - 14:15 Portuguese
Críticas/Books Uma tragédia monumental 0 7.751 09/03/2016 - 12:48 Portuguese
Prosas/Thoughts Meu grito silencioso 0 2.631 09/03/2016 - 12:21 Portuguese
Poesia/Gothic All my fears 0 6.872 09/03/2016 - 12:16 English
Poesia/Gothic Filho da lua cheia 0 4.094 09/03/2016 - 12:12 Portuguese
Poesia/Gothic Solidão eterna 0 3.418 09/03/2016 - 12:09 Portuguese
Poesia/Meditation When will my life begin 0 6.473 08/31/2016 - 21:15 English
Prosas/Thoughts Diferença 0 2.752 08/28/2016 - 10:40 Portuguese
Críticas/Books Desejos e frustrações 0 7.708 08/28/2016 - 10:38 Portuguese
Poesia/Meditation We need a true love 0 7.059 08/28/2016 - 10:19 English
Poesia/Haiku Aves 0 4.479 08/26/2016 - 19:05 Portuguese
Poesia/Meditation Precisamos de liberdade 0 3.631 08/26/2016 - 19:04 Portuguese
Poesia/Meditation Um sentido 0 2.414 08/26/2016 - 19:00 Portuguese
Poesia/Disillusion Don't call me anymore 0 8.409 08/22/2016 - 14:37 English
Prosas/Thoughts A ilusão da paixão 0 3.970 08/16/2016 - 13:50 Portuguese