Tudo e Nada

Escrever sobre nada significa ter a noção de tudo...
Significa ter a noção das nossas limitações mais efémeras...
Ter a noção que tudo é um simples nada...

Perceber que o cume da montanha repousa na palma da mão...
Que o vértice da pirâmide está á distancia de um simples olhar...
Perceber que os trilhos sinuosos se fazem ouvir nos gritos do vento...

Escrever sobre nada significa ter a noção de tudo...

De tudo o que nos rodeia em fogueiras omnipresentes...
Tudo o que nos fascina quando fechamos os olhos e morremos...
Tudo o que nos incendeia quando o desejo amanhece...

Significa ter a noção das nossas limitações mais efémeras...
Ter a noção que tudo é um simples nada...

Aquele nada que multiplicado se divide em tudo...
Esse mesmo nada que esvaziado floresce divino...
Nada de nada que é um imenso tudo...

São nadas e tudos de paredes rochosas de toque frio...
Sao tudo e nadas de magia forense e aromas curtos...
Doces delícias que o prazer acaricia...

É isso exactamente que a minha sentida alma anuncia...
Orlas de fulgor exaustivo que falo em palavras...
Mágoas cinzentas de amor que retenho em poemas...

Escrever sobre nada significa ter a noção de tudo...

Significa abrir a mão e deixar voar a vida...
Significa fechar os olhos e voar nas asas do universo...
Morrer no silêncio das mentiras nunca falecidas...

Libertar o nada nas garras do tudo...
Lacrimejar réstias de tudo...
Blasfemar odes ao nada...

É isso exactamente que a minha sentida alma pronuncia...
Nadas e tudos...
Tudo de nada...

Acabei de escrever a minha autobiografia...