Azedume

Hoje sei que estou
Dentro de uma represa carregada
De tal desolação infindável,
Que me sinto devorada numa inquietude impiedosa
Sem lasca lacada de porta mergulhada,
Em capelas fechadas de velas a findar.

Hoje sei que me sinto
Em profunda nostalgia vazia;
Em três pedaços quebrada;
Apenas três pedacinhos
Que me arrastam longe,
Destes bocados em que me vejo abalar.

Assim estou em tempos assim
E sem poder escrever poesia,
Histórias, contos ou marrafas de emblemas
Pendentes em que me assento.
O banco partiu-se em três lendas
De comédias desajeitadas e impensadas!

Nada cá dentro arremete
Ao que tudo azeda agremente;
Encontro as mesmas teclas de sempre;
Os dedos movem-se sozinhos e escrevem… Por escrever.
As palavras formam-se sem contextos
Repartidas com frases sem nexo… É só ler!

Onde estão escondidos os artefactos,
Que vulgarizam a existência
Absoluta do querer?
E que fazer, se hoje só sei divagar?
Devanear numa beleza apagada
Comprometedora… do nada!

Tenho dias assim…
Eu que não sou eu que aqui estou;
Não sou eu quem matuta
Nesta forma estranha e desconhecida,
Que me prende a este estado emaranhado,
Tresloucado e, sem mente.

Carla Bordalo

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Thursday, March 25, 2010 - 15:51

Poesia :

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mariacarla

mariacarla's picture
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Comments

marialds's picture

Re: Azedume

Uma poesia triste e confessadora, a qual nos põe a pensar, sobre etapas dos dias vividos.
Adorei.

Mefistus's picture

Re: Azedume

Um rasgo de boa poesia...Muito boa por sinal

Tenho dias assim…

A franqueza lucida e transparente como te revlas, como te moves no teu interior.
Para mim, um dos teus melhores poemas, para ler ao quentinho de uma lareira, em vinho do Porto, Vintage perdido

Muito, muito bom...(Faz esquecer a chuva e a solidão)

Favoritos

Anonymous's picture

Re: Azedume

Hoje sei que me sinto
Em profunda nostalgia vazia;
Em três pedaços quebrada;
Apenas três pedacinhos
Que me arrastam longe,
Destes bocados em que me vejo abalar.

Ler-te de manhã, quando lá fora chove copiosamente
e dentro de mim há como que uma nostalgia pegajosa,
é certamente beber a tua tristeza, emocionar e sentir
que a poesia sendo um prazer, nos condena muita vez
a essa espécie de sofrimento colateral.
Carla, gostei muito, tanto, que senti a poesia como minha. Sei que ma empreitas por breves momentos, para que ao relê.la reencontre as minhas próprias dores.
Beijo. Que amanhã a tua poesia seja de esperança e alegria!
Vóny Ferreira

Henrique's picture

Re: Azedume

Apesar de muita tristeza, é uma represa de poesia muito bela!!!

:-)

vitor's picture

Re: Azedume

Há uns dias assim, outros assim assim...
tenho dias que são de mim
e outros do nada
parecidos aos teus Carla.

bjs.
Vitor.

angelalugo's picture

Re: Azedume

Olá Carla

Pois é assim que nasce uma bela poesia
deixando a alma falar e o coração escutar

Beijinhos no coração

rainbowsky's picture

Re: Azedume

Hoje sei que me sinto
Em profunda nostalgia vazia;
Em três pedaços quebrada;
Apenas três pedacinhos
Que me arrastam longe,
Destes bocados em que me vejo abalar.

Se soubesses como as tuas palavras descrevem o que realmente sinto... qualquer dia peço-te para escrever pelo meu coração.

beijinhos

rainbowsky

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