Última visão

Você sabe, o escuro cai cobrindo nossas cabeças
flutuantes em nossos pescoços.
A chuva também cai e recai numa força escrava
de não desistir nunca.
O sol se esvai ao horizonte de nossas retinas.

Cães no cio numa noite embriagada,
Dopadas cobras dançam num ritual exorável
Najas nos becos rotos
Prontas para serem devoradas.

Surge emplumada e rompante a Deusa Naja.

Ele não se mostra, mas vai possuir a naja nesta
noite dopada.

Imagens rodeiam o instante, quebram o pensamento reto
e irradiam nossos encéfalos:
Enquanto sonhos de prazer encarnam o ambiente...
O noticiário nasce para vermos:
O carro colide contra a barreira de proteção,
Irrompe na morte pelo muro uma alma
Com o corpo fincado impossibilitado de atravessar.
Alma perdida na pós-desventura da vida.

Há sentimento de culpa na multidão calada.
O sangue de seu cérebro marca a pista
Como o rastro vermelho deixado sobre o mar nas
tardes de pôr-do-sol.
Há sangue na estrada de sua corrida
Há vermelho na infernal estrada...
Longa
Curvilínea.

Foi a nossa última viagem,
Inconseqüentes como crianças...
Não sabíamos até onde íamos agüentar,
Só me lembro desta última viagem...
Foi viajando que atravessamos
Foi viajando que rompemos
Foi viajando que descobrimos,
Quem sabe o lado de nossos sentimentos...
O outro lado do sofrimento,
Quem sabe o lado de nossos confinamentos...
Simples martírio de uma vida,
Foi assim que deixei de valorizar as coisas mais dignas.

Nós sobrevivemos àquela viagem incorporal.
Aquele corpo faleceu fincado no noticiário.
E assim ainda existo
Do jeito que tenho que existir.

Olho no espelho
Vejo dois lados
Alma interior
Olho para dentro; sua essência
Alma exterior
Olho para fora; sua aparência.
Não consigo alcançar o equilíbrio,
A imagem que uma pessoa pretende criar de si mesma.

Agora olhos estranhos preenchem
Esquinas e estradas vazias.
Nos últimos olhares estamos

Preciso de alguém...
Vamos pessoal!
Visitar o czar
Sinto a cobra chorar
O Rei Cobra está chorando...
O Rei Cobra está mal...
O assassinato está premeditado
Só falta o resultado.

____________________________________________________________________________________________________________

Vós olhais para cima, quando aspirais a elevar-vos
E eu olho para baixo, porque já me elevei.
(Friedrich Nietzsche)

Submited by

Thursday, March 25, 2010 - 16:43

Poesia :

No votes yet

FranciscoEspurio

FranciscoEspurio's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 22 weeks ago
Joined: 11/08/2009
Posts:
Points: 450

Comments

Henrique's picture

Re: Última visão

Cães no cio numa noite embriagada,
Dopadas cobras dançam num ritual exorável
Najas nos becos rotos
Prontas para serem devoradas.

Espectáculo!!!

:-)

Add comment

Login to post comments

other contents of FranciscoEspurio

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Fotos/Profile 2085 0 2.263 11/24/2010 - 00:45 Portuguese
Ministério da Poesia/General Tentativas inúteis na sacada 0 3.255 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Odisséia 0 2.793 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated No caminho das pedras brilhantes (São Thomé das Letras) 0 3.595 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O viço dos seios 0 3.441 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention A pele iraquiana 0 2.858 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O revés 0 2.720 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O guardião 0 2.868 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O Demônio Interior 0 2.707 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Morte ao amanhecer 0 2.587 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Death to be born wise 0 2.854 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated O texto de um pai 0 3.494 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Fantasy Ninfas 0 3.153 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Atado ao Umbigo 0 2.732 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention Pentáculo 0 2.583 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated Jean Baptiste Grenouille 0 3.294 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O estocástico 0 2.366 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sido Ser 0 2.287 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Grão latente 0 3.632 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O salto das horas 0 3.237 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Segure minhas mãos 0 2.735 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention Decepção da obra e do poder 0 2.926 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O ensejo da soma 0 2.885 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Perdição 0 2.906 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated Figura de madeira disforme que orna a proa de minha embarcação (Carrancas) 0 2.837 11/19/2010 - 19:10 Portuguese