O meu quintal...

Tenho um quintal por detrás da minha casa e até que ainda é grande... na minha infância, era um quintal cheio de vida...onde se plantavam batatas, couves, pepinos, tomates, de tudo o que a agricultura pode dar... a terra estava cheia de vida a plantarem-se sementes e a criarem-se frutos... tenho oliveiras, duas figueiras, laranjeira (ainda que azeda), pereira, tive uma macieira (mas que já não existe), tenho uma palmeira grande e outra mais pequena (a grande já quase me dá cabo da janela da casa que já ninguém abre para que não entre a bicharada.. : ) Mais?? Deixem-me pensar... tenho flores, outras "coisas" grandes verdes que na primavera à ponta ganham coisinhas brancas onde as abelhas me assustam e me fazem gritar de andarem a fazer o mel :)
Tenho um tanque que antigamente estava cheinho de água onde eu chapinhava com braçadeiras e me sentava em cima por vezes a ver o meu pato nadar e mergulhar cada vez que eu batia com a mão na parede... e que agora está vazio... ao lado dele, tenho uma capoeira onde antigamente tinha 8 galinhas, 21 pombas, 6 coelhos, uma marreca (era o nosso animal de estimação), um galo, rolas, dois cães e aí uns 10 gatos sem exagerar um bocadinho se não forem mais!!! A minha casa no verão parecia um jardim zoológico quando a minha mãe soltava os animais todos…
As galinhas raspavam a terra que eu achava muita graça, os coelhos a correrem uns atrás dos outros, as pombas vinham todas para cima das minhas mãos e dos meus ombros quando eu enchia as mãos de milho e deixavam marcas na minha roupa...o cão sempre à “bulha” com o gato, a minha cadela em que eu lhe atirava uma pedra para o outro lado da casa, ela corria atrás dela e eu escondia-me na minha "loja" e ela descobria me sempre pelo faro...
Esta minha cadela tomava banho em “condições” e era secada pelo secador de cabelo e uma toalha que era só dela escolhida pelo meu pai...
Os meus gatos... era um em cada sofá (que eu tinha só dois individuais na altura), e nós sentávamo-nos no chão…Até a minha marreca vinha para dentro de casa e tinha de ser sempre uma passadeira lavada de cada vez que ela lá entrava...
Tive uma infância muito feliz e recheada de cores e de alegria... e muita vida... mas só até ao dia em que o meu pai morreu...
O quintal agora não tem nada plantado, não tenho animais senão o meu peixinho no aquário... o meu tanque está vazio e sem água... na terra já não se semeia e colhe frutos... Os meus animais morreram todos numa noite apenas não escapou nem um! : ( Pensa-se que uma raposa foi lá e matou tudo. Ainda o meu pai era vivo... foi o luto... choramos todos... todos...pelos animais…
Depois o meu pai morreu... tudo ficou sem vida… Como já disse, deixou-se a agricultura...o tanque estagnado sem brilho. Quem me dera voltar atrás... era uma criança tão alegre... cantava a vida... sentava-me no chão do meu quintal a cantar com os animais à minha volta. Não se cansavam de estar ali comigo…Hoje estou mais triste de estar a pensar nisso e sentir que a infância não volta mais...
A família da parte do meu pai que passava aqui dias, jantares, almoços a fio...a minha casa era uma casa sempre cheia de gente... abandonaram-nos...
Era tudo fachada... Hoje espero que o meu pai tenha percebido isso onde quer que ele esteja e nos proteja...
Durante quase quatro anos de agora, a minha casa voltou a estar cheia…éramos já 7 com os nossos “ex” namorados... havia vida, barulho, vozes, risos, gritos…agora esvaziou de novo... esta vazia, sem vida, sem alegria, sem nada, conspira-se o silêncio... voltei de novo a sentir aquela sensação … : (