AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

O adeus nasce no teu silêncio.

Tu sabes quando te calar!

Sabes falar as feridas,
saradas em muros dentro de ti.

Afastas-te silente,
pelas promessas que se arrojam frias
nos traços do destino que já não te engana.

És um búzio que sabe decifrar o sol.

Fechas os olhos
num berço de sorrisos,
que abandonaste suspenso
num queixume atormentado
por quanto não te amaram.

De ti os pássaros cantam a solidão.

Sobre ti,
os Deuses sentem
as tuas preces quando te sentes sozinha.

Espancas a eternidade
nas nuvens em que te deitas,
a reencontrar o passado que se move em ti lento.

Um passado que querias que nunca existisse.

Em ti as ondas
estonteiam beijos
enrolados pela areia de prazeres,
onde respiraste o infinito atado ao teu peito.

Guardas em ti arranhões
de caminhadas desmembradas na tua boca.

Foram tantas as sedes que mataste!

São tantas as sedes que se rendem ao teu ser.

Desfolhas serões em gritos
que a esperança já não cala.

Em ti fala o perdão
que o teu coração não concede.

A vida ensinou-te a ser morte.

A morte ensinou-te a ser mãe.

Seres mãe,
ensinou-te a ser filha
da mesma mãe que consola a tua glória.

Sabes morrer
quando renasces isenta de tristeza.

Na tristeza desdizes
a fadiga do teu colo humano.

Adormeces
onde nada te dói.

No perfume de violetas
trespassadas de luz por anjos só teus,
vences a vida que mutilas com doçura.

Descosem-se em ti sombras
onde escondes a pele do teu medo.

É tão de pedra o mar
por onde evaporas o olhar.

Toda tu és um oásis de amor,
onde ancora o respeito que mereces.

Desenhas nas mãos
o tempo que te persegue apressado.

A teu lado,
o vento cai sobre as margens
a murmurar carícias onde já não habitas.

Seus sopros são punhais no teu corpo.

A chuva é um sono
onde escreves os teus passos.

Ensurdecida
por vertigens vãs,
desmaias numa asa que te leva
ao anoitecer do amor no teu rosto.

Deixas-te de acreditar.

Agitam-se as palavras à tua volta.

Escreves a revolta em assopros poéticos.

Enevoam-te
esperas perdidas,
onde soltas os braços
em calendários lassados
nos teus reflexos sobre a água.

Aprendeste
a parar as correntes nesse teu rio de saber.

A dança do teu ventre
é um naufrágio de portas fechadas
pelas avessas das tuas desventuras.

Desamparas-te por lágrimas
que só tu conheces na tua dor.

Teus momentos
são noites de luas entornadas
sobre os retalhos do teu desejo.

As flores crescem na tua alma.

Deixas apenas que elas floresçam…

Para a poeta Gazela com amor HUMANO!!! :-)

Submited by

Friday, July 23, 2010 - 01:25

Poesia :

No votes yet

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 7 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Comments

Librisscriptaest's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

"Sabes falar as feridas,
saradas em muros dentro de ti.
(...)
A vida ensinou-te a ser morte.

A morte ensinou-te a ser mãe.
(...)
Enevoam-te
esperas perdidas,
onde soltas os braços
em calendários lassados
nos teus reflexos sobre a água."

Lindissimos versos, meu querido Henrimarte!
A tristeza da musa é tb parte da sua força e a essencia da sua beleza!
Beijinho em ti!
Inês

SuzeteBrainer's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

Henrique,
As flores crescem na tua alma e nascem lindos poemas...
Adorei!!
Abraço.
Suzete.

carlosaleite's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

Escreves a revolta em assopros poéticos.

Adorei este verso (:

Dakini's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

A tua poesia é intensa e move-se de fora para dentro, e de dentro para fora como um remoinho de vento, quando nos esbofeteia a face e nos dezfaz um sorriso lento, feito de verdade nua e crua

Gosto dempre de te ler

bjs

PMPM's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

Belo poema e ramo de flores,

Ensurdecida
por vertigens vãs,
desmaias numa asa que te leva
ao anoitecer do amor no teu rosto.

Um poema ensurdecedor, que cala quem le!

Gostei de ler
Abraço

Nize's picture

Re: AS FLORES CRESCEM NA TUA ALMA

"Teus momentos
são noites de luas entornadas
sobre os retalhos do teu desejo."

Que retalhos belos tem na alma
essa doce Gazela...

Sublime!! Amei imensamente.

abrçs

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 9.859 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 53.371 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 9.601 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 11.520 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 10.158 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 11.381 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 9.513 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 10.254 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 8.550 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 8.213 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 8.117 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 10.456 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 7.478 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 8.222 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 8.406 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 6.683 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 10.056 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 8.182 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 9.089 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 9.037 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 7.602 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 7.419 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 6.509 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 9.926 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 9.772 01/16/2015 - 20:47 Portuguese