A borboleta preta
Da janela do quarto vejo uma borboleta preta, vejo-a a caminhar até á porta da cervejaria trindade, passados alguns instantes a borboleta é um homem, a sua transformação deu-se quando o sol entrando pela frincha da porta acertou como um tiro nas antenas.
- Uma cerveja preta muito fresca pois o calor é insuportável e a poesia é breve como a passagem dos anos quando fixamos os olhos nas saudades de tempos já distantes. Quando era uma borboleta não conhecia a saudade mas agora que sou homem e começo a sentir o sangue a ferver e a língua fresca de espuma fico a conhecer a ilusão da eternidade coisa que antes não sabia, pois a morte era literalmente um fechar de olhos.
- Não diria que vossa excelência já foi uma borboleta, dá certos ares de poeta, desses que o parecem pela palidez do rosto e pela magreza dos olhos, embora os olhos pareçam estranhos no caso de já ter sido uma borboleta não se viciou certamente nos perfumes do ópio. Pergunto-lhe se gosta da decoração do bar e se a cerveja está fresca. Sabe caro Senhor quando era miúdo adorava e peço-lhe desculpa por dizer isto esmagar borboletas para depois as colar ás saias das miúdas da minha aldeia, depois descobri também que davam sabor á cerveja segredo que me foi revelado por um certo Alemão gordo. Olhando os seus olhos imagino um livro , a capa como um bater de asas, quando fechamos o livro sufocamos as palavras e por isso substituímos elas pelo álcool. Vossa excelência toma mais uma cerveja, brindemos ao poder da metamorfose, o Deus borboleta que se fez homem que veio matar a sede nesta cervejaria, triste seria este Deus acabar os seus dias no fundo de um copo, mas vejo a salvação da poesia, voltámos ao tempo em que Lisboa sabia a cerveja, um sabor de filme antigo
lobo
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1156 reads
Add comment
other contents of lobo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Intervention | Fico dentro dos livros | 3 | 5.048 | 03/22/2018 - 18:42 | Portuguese | |
Poesia/General | Os velhos na casa da indiferença | 3 | 4.041 | 03/13/2018 - 19:41 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Nunca te disse | 0 | 4.038 | 12/04/2016 - 19:32 | Portuguese | |
Poesia/General | Está na rua a vender peixe | 0 | 4.477 | 12/04/2016 - 19:28 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | criação | 0 | 3.732 | 06/28/2015 - 16:08 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | preciso de um novo caminho | 0 | 4.622 | 11/18/2014 - 12:57 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | A luz na água | 0 | 4.679 | 09/30/2014 - 10:00 | Portuguese | |
Poesia/Song | Quem roubou o beijo forte | 0 | 3.999 | 09/24/2014 - 09:53 | Portuguese | |
Poesia/Song | Laço no cabelo | 0 | 4.091 | 09/24/2014 - 09:51 | Portuguese | |
Poesia/Love | No meu bairro | 0 | 3.986 | 09/18/2014 - 17:24 | Portuguese | |
Poesia/Song | compromissos | 0 | 4.025 | 09/16/2014 - 13:23 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Inventamos as flores | 0 | 3.763 | 08/05/2014 - 01:59 | Portuguese | |
Poesia/Love | Jogo fataaal | 0 | 4.272 | 09/11/2013 - 12:04 | Portuguese | |
Poesia/General | Dorme o verbo | 6 | 5.816 | 09/05/2013 - 16:03 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Maria | 0 | 4.749 | 09/03/2013 - 19:32 | Portuguese | |
Poesia/Text Files | Imagino o gato | 0 | 4.426 | 08/27/2013 - 17:01 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Levas o vento para o quarto | 0 | 9.230 | 08/06/2013 - 17:11 | English | |
Poesia/Intervention | Está escuro no teatro | 0 | 4.740 | 07/19/2013 - 17:50 | Portuguese | |
![]() |
Pintura/Figurative | Alce | 0 | 7.871 | 07/10/2013 - 12:37 | Portuguese |
![]() |
Pintura/Figurative | pessoas | 0 | 5.791 | 07/10/2013 - 12:34 | Portuguese |
![]() |
Pintura/Figurative | neptuno | 0 | 6.993 | 07/10/2013 - 12:32 | Portuguese |
![]() |
Pintura/Figurative | Anjos | 0 | 6.274 | 07/10/2013 - 12:31 | Portuguese |
Poesia/Intervention | A mediocridade tambem pode hipnotizar | 0 | 3.458 | 07/10/2013 - 12:28 | Portuguese | |
Poesia/Love | Não te quero perder | 0 | 4.026 | 07/08/2013 - 17:33 | Portuguese | |
Poesia/Friendship | Vém aqui | 1 | 3.645 | 06/17/2013 - 22:01 | Portuguese |
Comments
Re: A borboleta preta
Se eu gostasse de Lisboa... poderia apreciar ainda melhor o que dizes... mas não poderia gostar mais do que escreves.
:-)
Abraço.