A minha primeira professora
A minha primeira professora chamava-se Maria, era morena de estatura média, tinha cabelos negros como carvão e tesos que nem mexiam da quantidade de laca que usava, os lábios eram carnudos e pintava-os de vermelho vivo tal como as unhas.
Usava um perfume forte, mas tão forte que deixava odor de um dia para outro na sala e por vezes espirrávamos principalmente no primeiro dia de aulas a seguir ao fim-de-semana, ainda hoje sempre passo por alguém que use aquele perfume parece que vivo os momentos reais passados na sala da primeira classe, momentos esses de nervosismo, medo e inquietação.
Maria era demasiado arrogante para os seus alunos, até parecia que estava ali a fazer um favor à classe e sempre que questionava um aluno sobre a matéria dada e não obtinha resposta certa gritava e respingava com a sua saliva os primeiros alunos frente, naquelas palavras severas saíam o cheiro do seu perfume irritante que contaminava ainda mais a sala. Aquilo era um ambiente horrível, ainda mais para alunos de uma primeira classe.
Felizmente não me deixou marcas muito significativas da sua agressividade senão uma marca nos canhotos da mão esquerda por apenas ter tendências esquerdinas, a sua principal vítima fora Rui
Mas Maria deixara uma marca para toda a vida em Rui que era um moço muito pobre, marca essa que fez com que a criança nunca mais frequentasse a escola.
Chamava-se Rui, tinha cabelos grandes e despenteados, ia para a escola descalço e com a roupa suja para além de andar sempre com o nariz sujo.
Um dia Maria chegou à escola chamou o Rui e disse-lhe em voz alta para que todos ouvissem:
- Rui corta esse cabelo senão vais ver o que um dia te vou fazer!
E Rui dizia: - Sim senhora professora.
Rui chegava a casa e dizia à mãe o que lhe dissera a professora, mas de nada serviu.
E foram várias as vezes em que a professora replicou com o Rui na frente da sala.
Em frente à sala de aula havia uma enorme plantação de bananeiras e vinha explorada por um polícia que morava mesmo ao lado da escola.
A vinha era segurada por um corredor de ferro, no qual era suportado por uns ferros muito compridos na vertical fincados na terra que nos serviam de baloiço, mas assim que o polícia se apercebeu pegou numa foice e cortou todos os ferros para que, assim que nos atirássemos ao ferro nos cortasse a pele das mãos, fazendo com que desta forma nos afastássemos daquele tipo de brincadeiras para sempre.
Um dia Maria chegou muito mal disposta à escola e disse para o moço:
- Rui vai ali à fazenda e traz uma palha seca de bananeira a mais seca que houver!
O moço ficou tão orgulhoso que foi a correr apanhar a palha.
Nesse tempo era uma vaidade fazer um favor à professora e quando era para sair da sala de aula havia ainda mais prazer.
Quando Rui chegou à sala entregou à professora o que lhe fora pedido e diz-lhe ela assim:
- Rui senta-te na minha cadeira que já vais ver o que te vou fazer!
Rui levantou-se muito rapidamente e sentou-se junto à secretária da professora todo vaidoso, pois coisa igual nunca lhe acontecera.
A professora pegou no miúdo e pô-lo em cima da secretária para que melhor fosse visto e amarrou o cabelo de Rui com a palha de bananeira fazendo-lhe uma palmeira e como se não bastasse tirou o espelho da sua carteira pessoal para que Rui visse a sua figura.
Todos troçavam de Rui, a sua cara ficou lavada em lágrimas não só de tristeza, mas também de vergonha e a professora dizia-lhe:
- Isto é para outro dia fazeres o que te mandar, já faz muito tempo que te imponho ordens e de nada serve.
E Rui nunca mais foi à escola, ficava assim vagabundeando pelas ruas da escola, a dormir ao relento e tornando-se assim num criminoso.
Quem sabe este não foi o motivo que levou a que Rui escolhesse a vida do crime, quem sabe…; e quantos Ruis não existirão por aí com histórias idênticas à do Rui, quantos?
Funchal, 11 de Outubro de 2006
Maria Luzia Fronteira
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Comments
Re: A minha primeira professora
Manuelaabreu ;
Eu tenho muito respeito por essa classe. Por professores e demais, mas tambem sei, que eles influenciam e muito o futuro de alunos.
Sei de amigos, que por serem mal vistos, abandonaram a escola.
Muitos deles com capacidades incriveis.
Tambem acredito que o que era antes a escola, nada é o que é hoje espero.
As palmat´rias em mim fizeram histórias de terror, para contar com fervor.
Ai Rui, que perdes-te o Tino
e naufragas-te no Destino!
Um abraço
Re: A minha primeira professora
Manuela,
A primeira professora é uma figura importantíssima em nossa vida, e por isso nunca é esquecida.
Adorei!
Parabéns!
Um grande abraço