Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético

CONSUMISMO – porque a missão do filósofo (o amigo do saber) é esmiuçar o problema tentando compreendê-lo e não apenas de relatar a questão, achamos oportuno tecer algumas considerações sobre a motivação que dá causa ao Consumismo.
Tido como um dos males da Contemporaneidade e associado à superficialidade e à mediocridade o Consumo, no entanto, se olhado de forma isenta de pré-julgamento pode ser visto como algo além da mera puerilidade. Pode ser visto como a própria “Lei da Natureza1” camuflada com nova plumagem. Agora (e antes, também, diga-se) a simples força física já não é suficiente para garantir ao “poderoso” a predominância sobre o seu grupo social. Modernamente, “fortes e poderosos” são aqueles (as) que detém a força econômica, o poder financeiro. Poder, que geralmente é exposto através do consumo de supérfluos (para os demais, mas vitais para quem pode adquiri-los). Por via do Consumo exagerado, o qual indica claramente que seu executor tem posses, dinheiro, influencia, poder em suma. E que por merece (sic) ser reverenciado. Óbvio que o consumo é restrito à maioria e a impossibilidade de exercê-lo acarreta num segundo momento, raiva, frustração e outros sentimentos negativos. Mas por que, pode o leitor (a) indagar: só num segundo momento? Sim, porque no primeiro instante o que houve foi reverência, bajulação e subserviência ao “Poderoso”.
Prosseguindo com essa tese, chega-se com facilidade ao motivo de haver tanta repulsa (hipócrita, na maioria das vezes) ao Consumo e ao Consumista: raiva, medo, frustração e inveja de todos que não podem Consumir como aquele; mas que o fariam de bom grado caso houvesse a mínima possibilidade.
Se olharmos com atenção e sem preconceitos veremos que são motivos equivalentes, embora não sejam idênticos, aos daqueles que se opõem à “Lei da Natureza”. Execra-se um comportamento que é inacessível à maioria, como era o vigor físico na Antiguidade. Efetivamente, se a Força (física e/ou monetária) e o Poder dela decorrente não são para todos, que se estigmatizem os “Poderosos”, os “Fortes”, os Consumistas e que se console os “Fracos” com promessas de recompensas na “Vida Futura”, de favorecimento no “Juízo Final” ou, então, com a criação de Valores convencionados, e por isso dados como Verdadeiros, como a “nobreza da renúncia”, a “dignidade da miséria”, a “profundidade de sentimentos e de inteligência” e tantos outros. Valores e Promessas sem base natural, ou seja, sem base na natureza do Homem, e que, como se disse, são trocadas alegremente pela oportunidade de aumentar o Consumo.
Prosseguindo com esse exercício de sinceridade de Pensamento veremos que a maioria dos Indivíduos trocaria sem hesitar todas as Convenções pela chance de Consumir mais e é aí que se chega ao cerne da questão. Não se quer Consumir para desfrutar do que é delicioso, bom, bonito etc. É certo que num primeiro momento esses prazeres são efetivos, mas com o correr do tempo o hábito os torna sem maiores atrativos. Quer-se Consumir mais, apenas e tão somente para demonstrar e expor a “Força” perante o grupo social. Intui-se que só aos “Fortes (bem sucedidos )” é dado o desejado respeito, amor e consideração. E como a questão é de Intuição, somos remetidos à triste realidade que em essência, não obstante alguns avanços, somos como nossos Ancestrais, ou como as outras espécies animais que compartilham o Planeta conosco.
Malgrado todas as “conquistas” (sic) de que se orgulha, o Homem, naquilo que tem de mais intimo, não evoluiu nada. Seu desejo mais ardente é o mesmo de antes: ser querido, ser amado, ser respeitado; e para ter isso é necessário que tenha Força, Poder. Se antes a Força física bastava, hoje, graças à “Sociedade Complexa e Sofisticada (sic)” que criou, a Força do Indivíduo é medida pelo seu saldo bancário e por aquilo que ele (a) expõe ao praticar o Consumismo desenfreado.
1. Lei da Natureza ou Lei Natural – a Lei que regula os outros Seres, que ao contrário dos Humanos não criaram Códigos de proteção aos menos capazes.
Consumismo é um termo que vem do Latim CONSUMMATIO = adicionar, somar. Em termos literais é o estilo de vida e de comportamento típicos da chamada “Sociedade de Consumo”, Industrial, Capitalista, na qual os Indivíduos são pressionados a consumir bens e serviços que estão além de suas necessidades. Que lhes são supérfluos, mas que por força da publicidade tornam-se “necessários”. Para alguns, esse consumo exagerado é movido pelos capitalistas – através de suas estratégias comerciais – que pouco se importam com a perda de valores sentimentais, humanos que antes teciam a Sociedade, a qual, aliás, com a perda daqueles Valores encara problemas como o da violência motivada pelo desejo de consumo (os crimes cometidos pela maldade pura ou por questões passionais são infinitamente menores que os praticados para aumentar o poder de consumo de quem os praticou), desagregação familiar etc.
É um fato evidente, certamente, a ruptura social; mas como vimos anteriormente o desejo de se mostrar “Forte” para ser “querido e amado” pelo grupo está de tal modo embutido na psique humana, que seria ingênuo imaginar que a Humanidade possa abandonar essa sofreguidão de consumir. São remotas as chances de o Homem médio mudar seu modo de pensar. Continuará por muito tempo comportando-se como seus Antepassados, malgrado algumas exceções, é claro. Ainda é e por muito tempo será só mais uma das espécies que habitam a Terra e, como qualquer outra, não passa de mero escravo das “Leis da Natureza” que lhe modelam o caráter de tal forma que o Consumismo acaba sendo o único final possível.

Submited by

Friday, December 11, 2009 - 00:30

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 8 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Sadness A Canção de Alepo 0 6.681 10/01/2016 - 21:17 Portuguese
Poesia/Meditation Nada 0 5.826 07/07/2016 - 15:34 Portuguese
Poesia/Love As Manhãs 0 5.144 07/02/2016 - 13:49 Portuguese
Poesia/General A Ave de Arribação 0 5.769 06/20/2016 - 17:10 Portuguese
Poesia/Love BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE 0 6.671 06/06/2016 - 18:30 Portuguese
Prosas/Others A Dialética 0 11.233 04/19/2016 - 20:44 Portuguese
Poesia/Disillusion OS FINS 0 6.239 04/17/2016 - 11:28 Portuguese
Poesia/Dedicated O Camareiro 0 7.291 03/16/2016 - 21:28 Portuguese
Poesia/Love O Fim 1 5.667 03/04/2016 - 21:54 Portuguese
Poesia/Love Rio, de 451 Janeiros 1 10.560 03/04/2016 - 21:19 Portuguese
Prosas/Others Rostos e Livros 0 7.902 02/18/2016 - 19:14 Portuguese
Poesia/Love A Nova Enseada 0 5.881 02/17/2016 - 14:52 Portuguese
Poesia/Love O Voo de Papillon 0 5.413 02/02/2016 - 17:43 Portuguese
Poesia/Meditation O Avião 0 5.738 01/24/2016 - 15:25 Portuguese
Poesia/Love Amores e Realejos 0 7.243 01/23/2016 - 15:38 Portuguese
Poesia/Dedicated Os Lusos Poetas 0 5.838 01/17/2016 - 20:16 Portuguese
Poesia/Love O Voo 0 5.511 01/08/2016 - 17:53 Portuguese
Prosas/Others Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico 0 9.005 01/07/2016 - 19:31 Portuguese
Poesia/Love Revellion em Copacabana 0 5.311 12/31/2015 - 14:19 Portuguese
Poesia/General Porque é Natal, sejamos Quixotes 0 5.764 12/23/2015 - 17:07 Portuguese
Poesia/General A Cena 0 6.275 12/21/2015 - 12:55 Portuguese
Prosas/Others Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. 0 9.856 12/20/2015 - 18:17 Portuguese
Poesia/Love Os Vazios 0 8.446 12/18/2015 - 19:59 Portuguese
Prosas/Others O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. 0 6.885 12/15/2015 - 13:59 Portuguese
Poesia/Love A Hora 0 8.449 12/12/2015 - 15:54 Portuguese