Um parto solitário.
A lenha já crepitava na lareira onde todos os dias a panela de ferro cozinhava o sustento da família
Era manha cedo, no sinos da torre da igreja soavam as aves marias, sinais sonoros de um amanhecer em paz com os Deuses e a natureza.
A cozinha um espaço pequeno e simples onde a mesa encostada a parede servia para todas as actividades da família. Preparar o comer, descansar e para os miúdos fazerem os deveres quando chegavam ao fim da tarde da escola.
Era ali que tudo se passava, naquele pequeno espaço.
Como todas as manhas Maria acendia o lume e começava a preparar a sopa que alimentava a sua família
Os filhos ainda ensonados levantavam se mais tarde para engolir umas magras sopas de café com broa e ir para a escola.
O marido ainda não tinha chegado do turno da noite na fábrica.
Maria carregava no ventre mais um filho, prestes a nascer, e carregava também a solidão e a impaciência de um parto feito pelas próprias mãos. O corpo começara já a dar sinais que a criança não tardava a chegar.
Maria, preparava então a bacia da água morna, as toalhas lavadas e a tesoura com que iria cortar o cordão umbilical daquela criança.
Na solidão do seu quarto iniciava o processo transcendente da libertação daquele corpo pequenino do seu ventre para a luz do mundo.
Os gritos de dor eram silenciosos
-De que adiantava gritar
-Dizia ela. Não haveria ninguém para acudir. De cócoras agarradas aos ferros da cama a criança nascia.
Maria pegava então naquele pequeno ser, embrulhava-o nas toalhas brancas,limpava-o,dava-lhe o primeiro banho e deitava-se na cama a espera que o marido chega-se do turno da meia-noite.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 574 reads
Add comment
other contents of SãoGonçalves
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Thoughts | Espaços | 0 | 1.468 | 10/31/2011 - 21:24 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Profile | 251 | 0 | 1.885 | 11/24/2010 - 22:48 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 2901 | 0 | 2.586 | 11/24/2010 - 00:53 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 939 | 0 | 1.648 | 11/24/2010 - 00:35 | Portuguese |
Poesia/Meditation | Das cores... | 0 | 1.281 | 11/18/2010 - 16:17 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Pedaços de mim. | 0 | 1.114 | 11/17/2010 - 23:20 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Pedaços de mim. | 0 | 1.364 | 11/17/2010 - 23:20 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Nascentes | 3 | 1.167 | 08/12/2010 - 04:24 | Portuguese | |
Poesia/Poetrix | Clareira | 2 | 1.228 | 08/12/2010 - 04:15 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Leveza | 1 | 1.249 | 06/23/2010 - 20:53 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Margaridas azuis no olhar. | 1 | 1.368 | 06/07/2010 - 02:41 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Os sabores da infãncia. | 2 | 1.372 | 06/07/2010 - 02:34 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Sei de mim IV | 1 | 1.146 | 04/21/2010 - 00:35 | Portuguese | |
Poesia/Poetrix | Na estação do tempo | 3 | 1.322 | 04/18/2010 - 06:02 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Sei de mim .III | 3 | 1.236 | 03/10/2010 - 05:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sei de mim-II | 4 | 1.135 | 03/10/2010 - 05:23 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sei de mim. | 8 | 1.227 | 03/10/2010 - 05:17 | Portuguese | |
Poesia/Friendship | Rio abaixo,rio acima. | 4 | 1.293 | 03/10/2010 - 05:13 | Portuguese | |
Poesia/Poetrix | Seguir viagem | 3 | 1.102 | 03/09/2010 - 16:49 | Portuguese | |
Poesia/Poetrix | Esperança | 2 | 1.321 | 03/09/2010 - 02:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Hei-de voltar | 2 | 1.102 | 03/04/2010 - 19:59 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Azul como céu. | 5 | 1.376 | 03/04/2010 - 19:47 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O QUE IMPORTA | 8 | 1.281 | 03/04/2010 - 17:05 | Portuguese | |
Poesia/General | A cada amanhecer | 1 | 1.393 | 03/04/2010 - 16:12 | Portuguese | |
Poesia/General | Mulher | 3 | 1.326 | 03/04/2010 - 14:42 | Portuguese |
Comments
Re: Um parto solitário.
Saozinha fiquei sem palavras, perante este texto.
Um dia havemos de falar destas e de outras histórias contadas
Gostei muito
Obrigada por participar no tópico
Beijo
Matilde D'Ônix
Re: Um parto solitário.
Um belo conto, sabes fez-me lembrar o meu nascimento, que foi algo muito parecido com o que aqui está descrito.
Talvez um dia conte essa história.
Parabéns pelo texto
Beijos
Re: Um parto solitário.
Parabéns pelo conto! As mulheres sabem o que é isso! Abraços!
Re: Um parto solitário.
Muito bonito e verdadeiro, quantas mulheres já não deram a luz assimAbraços