Recordações ao olhar a Quaresmeira...

Enquanto caminhava pela rua , próximo a Velha Praça da Matriz de nome Dom Pedro II, reparei na bela Quaresmeira
em tons de Alizarin, que fica por detrás do banco da Velha Praça, que por sua vez ficava bem defronte ao Casarão Velho, onde morei...
É um Casarão no térreo dividido em três casas, da qual morei em uma delas, durante o início até o fim da minha adolescência.
Como era bom ficar de fronte a janela ou dependurada nela,olhando a Quaresmeira, sentindo o vento no rosto,ouvindo New Age Eboe , imaginado o futuro, pensando no tabaco e no arsênico...
Já que não fumava em casa , mas o arsênico eu sempre dei um jeito de escondê-lo no meu quarto.
Meu quarto era um corredor largo comprido sem janela ,mas com uma porta no fim e outra no meio ; que dava ao quarto da minha mãe.A tal porta , dei um jeito de que ficasse sempre fechada, coloquei uma estante grande ; do meu lado de cá da porta, encostada nela dessa forma não abria e ainda dava para esconder minhas garrafas de arsênico...
Lembrei-me do meu avô seu Lauro ou lindo, pois seu nome era Laurindo; sempre estava na poltrona da garagem, na janela do seu quarto ou sentado no banco que ficava na frente da Quaresmeira, fumando ou fazendo seu cigarrinho de palha...
Lembrei-me também do dia do seu óbito, pois fui eu quem escolheu sua roupa e a passou ,para que ele pudesse ter um velório digno...
As noites de solidão anunciadas, já se faziam presente na minha vida, as vezes, perdia o sono e ia atá a sala assistir MTV ou escapava pela porta da cozinha , só para observar o céu cintilante e a solidão da Velha Praça, a Quaresmeira...
Até cheguei a fazer um breve esboço de algumas flores dela , no papel em giz ou carvão , não recordo...
O Verão era sempre animado , com muitas vidas em redor da Velha Praça; muito riso e de vez enquando um jogo de bola ,mas minha turma preferia mesmo o tabaco , o arsênico e o carteado; um jogo de nome tal : Valete Maluco...
No Outono as folhas caiam quase que todas e começavam a encher a garagem, e o ar ia ficando frio e a angústia sufocante.
No Inverno as noites frias pediam um bom conhaque e um tabaco reforçado , para sentir o frio apenas nos rostos, enquanto adimiravamos o céu , mesmo com vento, mesmo com chuva...
As vezes tinha a lembrança de amores efêmeros e daquele momento adolescente, coisas que poderiam ter sido e não foram , hoje vejo que foi melhor assim...
No caminho sempre cruzamos com seres, que são Universos diferentes contidos dentro de si , quando colidimos com um desses ...
Nossa!!!!!!!...O choque intergaláctico é incrível , vai desde do êxtase até o caos do Buraco Negro ; sem volta , sem final para a dor .
É de certo que tive algumas poucas colisões, amores não correspondidos, desilusões, efemerismos alheios...
Não importa.
Hoje vejo que muitos desse Universos não viam o brilho de minha Estrelas, apenas queriam pegar carona no meu cometa, até que chegassem onde deveriam estar hoje.
Talvez, eu seja como uma Estrela Cadente, talvez não; um Planeta Inóspito ou algum tipo de Humanóide...Tolices...
Na Primavera a esperança sempre renascia junto com as flores , a Quaresmeira, além dos suspiros elétricos de um coração pulsantemente adolescente...
Como era lindo ver o pôr-do-sol , como era gostoso caminhar ,descalça, na grama da Velha Praça de madrugada ou simplesmente debater meu ou nossos caos instalados na mente.E o melhor de tudo era que não havia pressa ou hora , pra ir embora; meus amigos e eu moramos próximos , nem fosse uns 6 quarteirões da Velha Praça...
Coincidência ou não , hoje , moro uns 3 ou 4 quarteirões distantes da Velha Praça e da Quaresmeira, porém moro na rua que certa vez comentei com uma amiga o seguinte:
-Se algum dia eu tiver que mudar de casa , quero morar nessa rua onde têm um pôr-do-sol com triste Soslaio e uma Velha Paineira.
Penso agora, será que sou masoquista?
Não , apenas tenho um gosto insólito...
E no mais, quando vi a linda Quaresmeira em tons de Alizarin saindo detrás do banco da Velha Praça , de nome Dom Pedro II; que fica defronte ao Velho Casarão que morei,pude relembrar vagamente 7 anos de minha existência...
03/04/10

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Saturday, April 3, 2010 - 22:18

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