Sorrisos de Pena

Ele olhava-a perdido.
Ela perdida sorria-lhe.

Um sorriso de pena.

Todos os dias aquele olhar e aquela pena. Ele, desistindo, tentava não olhar. Mas encontrava sempre aquele sorriso de pena, aquele olhar vago que nada queria dizer. Fugia para longe, para tentar encontrar um sorriso verdadeiro, um sorriso apaixonado. Mas quando o encontrou, voltou para a pena que nada escrevia, para o sorriso que transmitia: "Desculpa." Estupidamente voltou para o nada. Tudo o que ele queria era vê-la sorrir apaixonada, com ou sem ele, isso era a única coisa que podia fazer com que esquecesse. Só quando a visse verdadeiramente feliz, ele a abandonaria. Apenas queria ajudá-la a ser feliz.
Um dia, descobriu por quem ela vivia, por quem o seu coração batia. Era um rapaz simpático, com um sorriso feliz e confiante, com cabelos fogosos como o dela. E foi aí que percebeu... Ela pertencia-lhe. Não havia outro que pudesse fazê-la sorrir. Eles pertenciam juntos. Ele, o perdido, era um mero obstáculo entre eles, ou talvez nem isso. Tentou saber se ele a amava, se havia hipótese de vê-la sorrir. E concluiu que sim. E que não. Era daqueles corações que não sabe se bate ou não. Se ama ou não. Se chora ou não. Se sorri ou não. Era... um eterno indeciso. E ela nada fazia senão ficar refém dele. À mercê dos dias. Das horas em que o coração dele batia por ela. Sorrindo e chorando pelos impulsos que dava no trampolim do coração dele. Afinal era tudo o que interessava. O coração dele e o que ele sentia hoje.
O perdido percebeu que nada podia fazer senão sorrir...

Um sorriso de pena.

Viu-a no meio da multidão, tão perdida como sempre. Olharam-se. Sorriram cheios de pena um do outro. A multidão começou a dispersar e ele caminhava para longe da sua perdição. Seria apenas mais um dia normal. Mais um dia inútil. Um dia... estúpido. Mas não! Ele quis contrariar essa normalidade, essa morte! Era agora ou nunca! Correu para ela, empurrou-a contra os cacifos e agarrou-lhe os braços, não lhe pemitindo mexer-se, debater-se. Ela nada disse para além do grito de surpresa. Era como se estivesse à espera, como se soubesse que aquele momento iria chegar mais cedo ou mais tarde. Ficaram ali imóveis, de olhos fechados, a centímetros apenas de se beijarem, respirando o ar do outro, imaginando na escuridão o olhar do outro. Parados, amantes que não se amavam no silêncio que finalmente tinham conquistado. Ele aproximou-se, roçando os seus lábios nos dela, mas nada fez. Ficaram ali enquanto uma lágrima conjunta descia pelas faces e repousva no beijo incompleto. Nada podiam fazer. Não era ela e não era ele. Quem lhes dera que fosse. Matando o beijo que não aconteceu o rapaz afastou-se uns milímetros apenas e quebrando o que tinha levado tanto tempo a conquistar disse, rouco de tristeza: "Amo-te". E foi como se o mundo se afundasse. Queriam tanto que aquela palavra acontecesse, há tanto tempo que a desejavam... Ele dizê-la e ela ouvi-la. Ele para ela, mas antes de saber, ela para ele, mas noutra vida. E tal como veio, a palavra foi-se. Morreu. E o rapaz virou costas à rapariga que amava, caminhando para longe dela, desejando apenas que um dia ela ouvisse aquela palavra dita por aquele coração inconstante que ela amava. Ela deixou-se cair, desejando apenas que um dia ele dissesse aquela palavra à pessoa que ele amasse, esquecendo-se que era ela. Levantou-se e olhou de frente o mundo, escondendo o seu coração como sempre fizera até ali. Caminhando para a sala de aula olhou para trás. E lá estava ele, de mãos nos bolsos, com o olhar fixo nela. O inconstante. Ela? Ela olhou-o nos olhos e não conseguindo fazer mais nada, sorriu-lhe.

Um sorriso de pena.

Ele? Ele retribuiu-lhe o gesto.

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Tuesday, May 25, 2010 - 21:22

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henrike8

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Re: Sorrisos de Pena

"Ela pertencia-lhe. Não havia outro que pudesse fazê-la sorrir. Eles pertenciam juntos. Ele, o perdido, era um mero obstáculo entre eles, ou talvez nem isso. Tentou saber se ele a amava, se havia hipótese de vê-la sorrir. E concluiu que sim. E que não. Era daqueles corações que não sabe se bate ou não. Se ama ou não. Se chora ou não. Se sorri ou não. Era... um eterno indeciso."

Henrique, gostei muito, muito de ler este texto teu...
Está tão bonito, intenso e triste...
Foi um verdadeiro prazer passar por aqui!
Beijinho grande em ti!
Inês

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Re: Sorrisos de Pena

Muito Obrigado por "me leres" Libri ;)

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