Paraíso de mim

Tantas e tantas vezes dispo-me de dignidade em prol de quiçá um dia vestir-me com flores, concretas, não de poesia. Mas sempre que espero a primavera o outono vem como fera e secam-se os galhos, gerando frangalhos de flores e frutas que não alimentam. E não é nada e nem ninguém. É apenas minhas estações pessoais perturbadas por uma translação extemporânea, desviada do eixo da realidade.
Um romantismo utópico que permeia minha pele, meus cabelos, minha boca, minhas mãos que escrevem, loucas um mundo inventado por mim. Que sofre quase que diariamente um apocalípse a cada noite e um gênesis a cada manhã de sol solitária em que respiro a vida a todo pulmão, e sufoco-me com meu próprio ar de ilusão. Mas penso, se sou meu Deus porque não invento um paraíso? Nele construo tudo o que preciso e vivo feliz. Porque meu Deus? Essa diabólica maçã sempre me tenta, sempre esta serpente, sinuosa e atenta a sibilar irrealidades impossíveis ao meu ouvido.
Um dia a como, juro que a como, nem que seja expulsa do mundo. Estou cansada de ser assim, tão miserávelmente humana e sonhar com o simples, o bucólico, o pequeno. Querer apenas para viver um café da manhã de domingo com a familia e um sol invernal entrando pela janela para eu poder ver a fumaça do café fumegante desenhar silhuetas ao ar.

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Tuesday, June 22, 2010 - 15:52

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analyra

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Re: Paraíso de mim

Ai, as diabólicas maçãs q nos tentam... Ser "Eva" é tramado!
Minha querida, adoro ler-te neste registo de prosa poetica quase profetica e filosofica!
"Um romantismo utópico que permeia minha pele, meus cabelos, minha boca, minhas mãos que escrevem, loucas um mundo inventado por mim. Que sofre quase que diariamente um apocalípse a cada noite e um gênesis a cada manhã de sol solitária em que respiro a vida a todo pulmão, e sufoco-me com meu próprio ar de ilusão. Mas penso, se sou meu Deus porque não invento um paraíso?"
Lindissimo, minha querida!
Q o romantismo te torne sempre permeável!
Beijinho granfde em ti!
Inês

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