O Cometa

Ao Sr. Francisco Sotero dos Reis

Non est potestas, quae comparetur ei qui factus est ut nullum timeret. --

Job

Eis nos céus rutilando ígneo cometa!
A imensa cabeleira o espaço alastra,
E o núcleo, como um sol tingido em sangue,
Alvacento luzir verte agoireiro
Sobre a pávida terra.

Poderosos do mundo, grandes, povo,
Dos lábios removei a taça ingente,
Que em vossas festas gira; eis que rutila
O sangüíneo cometa em céus infindos!...
Pobres mortais, - sois vermes!

O Senhor o formou terrível, grande;
Como indócil corcel que morde o freio,
Retinha-o só a mão do Onipotente.
Ao fim lhe disse: - Vai, Senhor dos Mundos,
Senhor do espaço infindo.

E qual louco temido, ardendo em fúria,
Que ao vento solta a coma desgrenhada,
E vai, néscio de si, livre de ferros,
De encontro às duras rochas, - tal progride
O cometa incansável.

Se na marcha veloz encontra um mundo,
O mundo em mil pedaços se converte;
Mil centelhas de luz brilham no espaço
A esmo, como um tronco pelas vagas
Infrenes combatido.

Se junto doutro mundo acaso passa,
Consigo o arrasta e leva transformado;
A cauda portentosa o enlaça e prende,
E o astro vai com ele, como argueiro
Em turbilhão levado.

Como Leviatã perturba os mares,
Ele perturba o espaço; - como a lava,
Ele marcha incessante e sempre; - eterno,
Marcou-lhe largo giro a lei que o rege,
- Às vezes o infinito.

Ele carece então da eternidade!
E aos homens diz - e majestoso e grande
Que jamais o verão; e passa, e longe
Se entranha em céus sem fim, como se perde
Um barco no horizonte!

Submited by

Monday, April 27, 2009 - 03:57

Poesia Consagrada :

No votes yet

AntonioGoncalvesDias

AntonioGoncalvesDias's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 19 weeks ago
Joined: 04/27/2009
Posts:
Points: 288

Add comment

Login to post comments

other contents of AntonioGoncalvesDias

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Fotos/Profile Gonçalves Dias 0 1.401 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rosa no mar! 0 1.069 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sempre ela 0 1.122 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Se muito sofri já, não me perguntes 0 973 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Love Se se morre de amor 0 2.009 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sobre o túmulo de um menino 0 1.047 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Voltas e mortes glosados 0 1.271 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Zulmira 0 1.222 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Minha terra! 0 1.242 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Não me deixes! 0 970 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General No jardim! 0 1.142 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Love O Amor 0 1.823 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General O Gigante de Pedra 0 1.032 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Oh! Que acordar! 0 1.057 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Olhos Verdes 0 1.098 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General O que mais dói na vida 0 1.021 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Palinódia 0 1.044 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Pensas tu, bela Anarda, que os poetas 0 1.474 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Que me Pedes 0 1.092 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Retratação 0 1.445 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rola 0 1.554 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General A Tempestade 0 1.248 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General As artes são irmãs 0 1.073 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General As duas coroas 0 1.533 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Canção 0 1.117 11/19/2010 - 16:54 Portuguese