APÓLOGOS XVII

17

Os dous burros e o mono

Um burro lançado á margem
Ostentava de talentos;
Moía um seu camarada,
Exemplar dos pachorrentos.

Zurrando conceitos graves,
Como quem falia, e não pensa,
Cumpria o rifão do vulgo
— Tal cabeça, tal sentença. —

O trombudo companheiro
A longa orelha abaixando,
Sem lhe responder palavra
Ia ouvindo, ia pastando.

«És bruto ! Não me respondes ?
(Diz o orelhudo doctor)
Envergonho-me de sermos
Eguaes na fórma, e na côr.»

Extranhando-lhe a basofia
Um mono dos mais astutos,
Que n'uma arvore trepado
A alliviava dos fructos,

Co'uma gargalhada exclama:
«Não verão quem alardêa !
Burro com fumos de mestre !
Isto é cousa, que se creia !

«Não zombes d'esse coitado,
Faz bem em não responder:
Um tolo só em silencio
E' que se póde soffrer.»

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Sunday, October 11, 2009 - 16:32

Poesia Consagrada :

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