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ELOGIOS XII

12

Congratulação ao Principe, e á Patria
na Paz Universal

(Anno de 1801)

. . . Ferrea primum
Desinet, ac toto surget gens aurea mundo.

Virgil. .ECLOG. IV.

Pezavam sobre a terra os ferreos Tempos:
Do facho das Euménides saltava
Em scentelha, e scentelha um novo crime,
Extranho aos homens, e usual no Averno.
Ardia o coração da triste Europa
Em chammas, que a Discordia reforçava
C 'o ardor, que zune, estala, ondêa, eterno
Nas frágoas immortaes do horrivel Pluto.
Pelo amplo continente, e além dos mares
Entravam, bravejando, as leis, e as Furias:
Ceres espavorida os ermos campos
Ao numen da matança abandonava;
De iniquas mãos espolio, o docil bruto,
Socio fiel do válido colono,
A robusta cerviz curvava ao ferro,
A robusta cerviz, que dera ao jugo.
Era sonho a razão, systema o crime,
Era fado a crueza, instincto a guerra
No attonito, infeliz, sanguineo globo.
0 cáhos resurgia, inerte, opáco,
Do abysmo, onde o sumiste, oh Ente immenso !

Em hórridos baixeis trovões de bronze
No alto Oceano alardeavam mortes:
O duro inglez, o déspota dos mares,
Torrente universal de cem victorias
Sustinha, represava ao gallo ovante.
Albion, portentosa, invulneravel,
De espumas, e trophéos cingida, ufana,
Ço'as barreiras equóreas blasonando,
Ás miseras nações atropelladas
Mostrava o brio illeso, immune o seio,
Da patria o sancto amor perenne, intacto.

Delirante ambição de falsa gloria
Na Gallia turbulenta, e já não culta,
O peito revolvia aos igneos Martes.
Nas azas da invasão transpunham serras;
Aos rapidos guerreiros se ant'olhavam
Valles os Pyrenéos, planicie os Alpes
(Colossos, que dos céos o pezo aturam !)
Iberia vacillou, tremeu Germania,
As Aguias, os Leões se acobardaram:
Iberia, que fez face aos reis do mundo,
Do mundo á capital, e a gran Germania,
Que outr'hora as legiões sorveu de Roma,
Forçando o seu tyranno a dó pezado.

Tu, flôr das regiões, formosa Italia !
Dos Fabricios, dos Régulos, dos Fabios,
Dos Brutos, dos Catões tu mãe, tu nume !
Oh fóco da grandeza, e do heroismo !
Rival da Grecia, vencedora, herdeira !
Viste milagres seus desarraigados
De teu seio gentil, só digno d'elles !
Insana usurpação, brutal rapina
Extorquiu, profanou, desfez portentos,
Sacros á furia de hyperbóreos monstros,
Da tragadora edade á furia sacros.
As mestas Artes, co'a melhor na frente,
(Aquella que os heróes ergue da morte,
E em metro venerando os perpetúa)
Carpindo-se, abraçando-se, fugiam.

Teus póvos, infeliz, teus cultos póvos,
Dados ao ferro, á chamma, o céo rasgavam
Em lamentos, em ais; saudades tinham
Do sceptro, que os Caligulas mancharam,
Do tempo em que os tyrannos foram deuses !
Ai ! Que faria a miseranda Ausonia,
Sem ter Camillos, que oppozesse aos Brennos !
Afeito a dardejar tartáreas flammas,
O Vesuvio pasmou do estranho incendio,
E de enorme vulcão por entre as fauces
Alçando o torvo Dite a fronte adusta,
Quanto vira no inferno olhou no mundo.
O mundo agonisava. . . oh céos ! Nem Lysia,
A que á sombra de Jove altêa o cólo,
Nem Lysia se eximiu do mal nefando,
Lysia, de um semideus herança, e patria!
Nos seus, imagem vossa, elysios campos,
Já bramia o furor, manava o sangue;
Já ... mas subito, á voz do Omnipotente,
Que os Aquilões nos Zephyros converte,
Recolhe as azas a procella immensa,
Librada sobre o lugubre universo.
Ante o solio de innumeros luzeiros,
Que alumia os salões da Eternidade,
Teu nome, alto João, e as preces tuas
Contra o commum flagello empenhos foram.
«Eia, ministros meus: em risco é Lysia !
(D'entre milhões de soes o Eterno exclama)
Se a quiz exp'rimentar, salval-a quero.
A promessa de um Deus não retrocede,
E d'ella inda lembrado Ourique exulta.
O que Affonso escutou João merece,
As virtudes do avô melhora o neto:
Vós sabeis ante mim quanto differe
O pacifico heróe do heróe guerreiro.
Momento, em que hei fadado a paz do globo,
Annexo ao p'rigo está, que Lysia corre.
Ide, Espiritos meus, Concordia, vôa:
Azedos corações adoce o nectar,
Que entorna em meus jardins manhã sem noute.
Concorrentes nações — Britannia, Galla —

Deponham timbres vãos tenaz orgulho;
Em laço fraternal suffoquem odios,
De que deixei pender do mundo a sorte.
Arcanos, que nem mesmo a vós se aclaram.
Em penetraes de bronze a mim só francos,
Do universal contagio o fim permitte'm.
Etherea viração comvosco adeje,
Que varra aos ares do orbe a estygia peste.
Co'um aceno abysmae no Averno as Furias:
Por ora sobre a terra apenas fiquem
Os erros dos mortaes. innatos erros,
Té que os lave o Remorso á Natureza.
O commercio prospere, as artes brilhem,
Floreça a paz, a industria, a gloria, tudo.
Os homens o pareçam.» — Disse, e fez-se.

Emfim, Principe augusto, emfim, poderam
Teu rogo, incensos teus dobrar um Nume!
O que ao mundo negou por ti lhe outorga:
Lysia vale o universo ante seus olhos.
Imagem do teu Deus, pae de teu povo,
Inunda o coração dos bens, que esparges:
Exulta, vive, reina, e brando acolhe
Offrenda, que a teus pés depõe submisso
Quem, dado ás Musas, e anhelando a fama,
Se honra em teu jugo, tuas leis adora.

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domingo, outubro 18, 2009 - 21:22

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Bocage

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