ÁMEN

 

A noite é portefólio de almas inquietas
onde tempestades são fogachos de medo
que enceta os pés à estátua da voz
na cara do amanhã.

Fantasmas de ontem cobrem-me o corpo
qual edredão de neve fosse uma dádiva
de reconciliação com o túnel da vida.

Entrego os sonhos
à mendicidade do excesso
até à exaustão da mente num esgoto
de tertúlias insanas.

Rastejo em luz
à beira de calores congelados
na errância dos sentidos sem saber
como de lá sair.

Escolher
o fio condutor da morte
é um caminho de vergonha
onde ressuscitam homofobias
lambuzadas de anjos sem asas.

Multidões perseguidas por solidão
são o pão de renúncias à fome da carne
trucidada por miscelânea.

Nego o acaso
da obra de penumbras
que a madrugada lapida de dramas
existenciais no absoluto das mãos vazias.

Mãos de sinas autoflageladas
dentro de si mesmas medidas humanas
qual morto caminhe sobre palavras concupiscentes.

Abstracto romance de côdea precursora de tramas
qual parábola de um destino leve o convencimento
ao ânimo de alguém com serões tântricos.

Heresias sagazes
que não se deixam domar
são remissão de um mar servo
de uma praia de amor qual guitarra sem cordas
soasse o apocalipse dos olhos.

O pensamento
é uma carta de tamanhos marfim
em peso atado ao fim do sorriso por cordões
de tiro ao alvo fundido no dia da pele.

Arrepios desossados de distância
tecem teias de seios fartos qual fonte amamente
rios de lágrimas embaciadas de saudade.

O espelho é uma cama de flores delicadas
cujo reflexo é uma sinfonia do olharmo-nos
libertos de emoção ou sentimento que sofreu repressão.

Aquilo que cada um em si vê,
é uma almofada que ora se enche de beleza
ora de fraqueza.

Ora nos vedamos de tristeza
ora nos doamos à loucura de uma voz íntima
em tom psicanalítico.

Desvencilham-se
desculpas farpadas que consistem
em trazer à consciência recordações
impedidas de voar os orgasmos do tempo.

Lamento
indomesticável assassina cores-de-rosa
separada dos ventos que une as poeiras analfabetas
dos sentimentos.

Ámen.
 

Submited by

Thursday, December 16, 2010 - 18:17

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 7 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Comments

Dianinha's picture

:D

Humm, tão bom!

Saudades...

 

Beijinho!

Susan's picture

Àmen

Heneique um poema cheio do amor por entre espelhos que vão dar num apocalipse de corpos que se querem ....

Muito bom te ler !!!!

Beijo

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 9.860 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 53.385 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 9.601 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 11.520 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 10.159 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 11.384 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 9.514 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 10.254 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 8.550 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 8.213 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 8.119 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 10.459 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 7.478 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 8.222 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 8.408 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 6.683 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 10.056 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 8.184 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 9.091 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 9.040 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 7.602 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 7.419 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 6.510 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 9.928 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 9.773 01/16/2015 - 20:47 Portuguese