Os Catadores e o Viajante do Tempo


Os dias foram passando
Nas ruas desertas
O viajante do tempo
Observava as criaturas

Dormindo sob as marquises
O carrinho cheio de papelão
A barriga só com um pastelão
O jornal aquecendo as noites

São dias que se repetem
Aos olhos do visitante
É a outra face da cidade
Das vidas que insistem

Não são mendigos, nada pedem
Apenas livram as calçadas
Das caixas, dos embrulhos desfeitos
Na saga da sobrevivência, cansam e dormem.

As suas moradias distantes
Fazem das ruas seus lares
Faça frio ou calor, pouco importa
Todas as estações ao sabor da brisa

O intrépido cavalheiro
Encontra um casal de catadores
Uma breve troca de olhares
E lhes oferece um prato

Uma prenda rara necessária
Para suportar aquela noite friorenta
Eles agradecem a divina providência
E o viajante deixa escapar uma lágrima

Assim seguiu o misterioso Senhor
Enquanto se agitavam jovens em bares
A tudo ouvia atentamente, gemidos e preces
Sua missão destinava-se aos humildes, sem penhor.

Mas, todo o alimento contido em um prato
Do bar na Lapa, à quentinha na Rua dos Andradas
Era o contraste de vidas desiguais, um paradoxo
Pois ambos tinham sua razão de ser, deveras...

 

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 27/12/10.

Submited by

Wednesday, December 29, 2010 - 09:32

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 6 years 35 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Comments

AjAraujo's picture

Neste poema presto uma

Neste poema presto uma homenagem aos trabalhadores que limpam a cidade de seus descartes: os catadores de papel e papelão para reciclagem.

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Intervention Teu Nome (Marina Tsvetáieva) 0 1.938 07/13/2011 - 10:13 Portuguese
Poesia/Meditation Campo de Batalha (Tomaz Kim) 0 2.391 07/13/2011 - 10:09 Portuguese
Poesia/Meditation Canto a mim mesmo (W. Whitman) 0 816 07/13/2011 - 10:07 Portuguese
Poesia/Intervention Canção do Exílio (Murilo Mendes) 0 2.205 07/13/2011 - 10:05 Portuguese
Poesia/Love Musa de minha inspiração 0 565 07/13/2011 - 01:49 Portuguese
Poesia/Aphorism Mitologia 0 1.329 07/13/2011 - 01:48 Portuguese
Poesia/Love Morena e Lareira 0 1.575 07/13/2011 - 01:46 Portuguese
Poesia/Intervention Resta somente o mistério de um adeus... 0 790 07/13/2011 - 01:45 Portuguese
Poesia/Meditation Os ombros suportam o mundo (Carlos Drummond de Andrade) 0 1.715 07/12/2011 - 14:21 Portuguese
Poesia/Fantasy Quando os meus olhos (Mário Quintana) 0 1.994 07/12/2011 - 14:18 Portuguese
Poesia/Friendship Os Amigos (Sophia de Mello Andresen) 0 1.550 07/12/2011 - 14:16 Portuguese
Poesia/Meditation Saudade (Pablo Neruda) 0 4.095 07/12/2011 - 14:14 Portuguese
Poesia/Intervention A Concha (Ossip Mandelshtam) 0 3.573 07/12/2011 - 14:12 Portuguese
Poesia/Dedicated Na Minha Terra (Álvares de Azevedo) 0 839 07/12/2011 - 14:09 Portuguese
Poesia/Intervention Chuva Oblíqua (Fernando Pessoa) 0 1.528 07/12/2011 - 14:05 Portuguese
Poesia/Dedicated Mas, o que falta? 0 1.166 07/12/2011 - 00:30 Portuguese
Poesia/Intervention Maior desafio é... viver 0 729 07/12/2011 - 00:28 Portuguese
Poesia/Dedicated Jacimar e sua dor: criança com doença rara 0 1.698 07/12/2011 - 00:26 Portuguese
Poesia/Dedicated Poda da Amendoeira (Gabriela Mistral) 0 5.570 07/11/2011 - 21:40 Portuguese
Poesia/Intervention Segundo Soneto da Morte (Gabriela Mistral) 0 1.715 07/11/2011 - 21:36 Portuguese
Poesia/Dedicated Pensador de Rodin (Gabriela Mistral) 0 1.523 07/11/2011 - 21:33 Portuguese
Poesia/Fantasy Todas íamos ser rainhas (Gabriela Mistral) 0 1.327 07/11/2011 - 21:31 Portuguese
Poesia/Fantasy Achado (Gabriela Mistral) 0 3.923 07/11/2011 - 21:26 Portuguese
Poesia/Love Melodia do Amor 0 1.740 07/11/2011 - 16:28 Portuguese
Poesia/Intervention Memórias 0 772 07/11/2011 - 16:27 Portuguese