AUTÓPSIA À ILUSÃO, TUFÃO DE NADA
A solidão é prefácio do desejo
que nos alude desbocadamente ao vazio.
Estar só é um frio
onde cada arrepio é turbulência
dos sentidos num silêncio imenso
qual sinfonia de horror amordaçasse a voz.
A saudade é posfácio do quanto
poderia ter sido o tempo que não foi contado.
Sentir saudade é uma autópsia
descartável do que é ilusão.
A alegria é a comunhão
com a natureza vitalícia nos olhos
de quem a cuida jocosamente.
Estar alegre é interposição
de um personagem louco nos pilares
de uma multidão ausente de tão pouco.
A tristeza é um tufão de nada
onde tudo é colapso soprado de grito cioso.
Estar triste é uma avalanche
de ruínas erguidas ao passado.
O sofrimento é linguagem
de caos e desordem interior.
Sofrer é um mar
de espinhos a bordo de queixume.
O adeus é a despersonalização
da alma em eco desfasado.
A despedida
é a mecanização das lágrimas rosto abaixo
qual riacho a chuva invada de fúria.
O ódio é uma propensão violenta
de actos postiços numa caravana
de abismos em escuro pérola.
Odiar é um sofisma de caminhos transidos
de nevoeiro que paira inferno nas mãos.
O pensamento
é um universo de espontaneidade
com qual transgredimos os sensos da lógica.
Pensar é uma narrativa debutante
sobre ditames de infinito num suspiro insano.
O prazer é gula de cálcio crua
solidificando os ossos do ego.
Um desmaio de prazer
é a vitamina de juventude
para a carne em jorro eterno.
O amor é uma bandeja
de frutas frescas que saciam os sonhos
num altar de salivas excitadas por poesia.
Amar é uma margem
de árvores primaveris por onde
nos deixamos flutuar luar constante.
A paixão é uma orla de sinónimos
de fogo em toneladas de solstícios.
Paixão é uma gôndola perdida
por mil orgasmos de Veneza na pele.
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Comments
Parabéns
Parabéns Henrique!
Parabéns.. Este está fenomenal.
Obrigado
AUTÓPSIA À ILUSÃO, TUFÃO DE NADA
O ser é aquili que é
o que querem que seja
mais aquilo que foi.
Vitor.