Strange I - O peixe e a boca de vidro
Adormeceu-te um peixe na boca
Sobre a língua de cubos de gelo para o mnater fresco
durante o tempo de viagem entre o sonho
e o acordar dentro do vidro dos seus olhos
para tornar as paredes limites mais silenciosos
sobrepostas em camadas uma a uma
incendiadas pelos beijos sem oxigénio
presos a um anzol de escama trucidadas.
Pousou a âncora salgada num canto escuro
e com picareta escavou buracos finos
saindo deles água doce e lágrimas
que morriam lentamente à medida que a voz surgia
chamando com voz tremida e rouca
barcos procurando na neblina a sua presença.
Mais cedo ou mais tarde trasnformar-se-á
diante dos teus lábios espelhos e testemunhas
da sua fuga, dessa fuga que o levará de novo
ao encontro das ondas armadilhadas
pelas redes amaldiçoadas de um pescador fanático.
Quererás senti-lo a imergir na garganta
e navegar no teu peito até à alma pacífica
ele enganar-se-ia e confundiria com o oceano
o pacífico. Não saberás onde o encontrar,
mas por certo navega por outras águas lamacentas
já morto, sem possibilidade de voltar atrás
e dizer-te o quanto a tua boca é a mais completa
paisagem , o quanto foi fácil disfarçar a dor do anzol,
a dor e o ar nos pulmões reconditos onde adormecer é uma
dádiva, e quando aí há possíveis almofadas...
A âncora desprende-se do fundo viscoso de algas
sem perguntar a outros seres inanimados
porque lhe foge a companhia, ainda doas esponjas.
Recorda-o uma vez que seja aumentado muitas vezes
assimd aqui a muitos anos quando houveres esquecido
muito sobre ele, terá ainda o tamanho original;
talvez com s olhos vidrados e escurecidos, deprimidos
como os teus. Aqueles que colocas em dias de acordares
mais turbulentos, mas que pesar de tudo são sempre os teus.
Já vai longa a sua viagem à beira da costa
com suas escarpas mudas olhando-o fixamente,
tão fixamente que por várias vezes
teve de retomar o caminho depois de se perder
devido à má influência das fortes correntes,
a fazer lembrar um muro intransponível.
Chora agora, pois é a tua última oportunidade
de comunicar com ele mais uma vez.
ESsas lágrimas silenciosas não tomarão o caminho
que ele tomou, nem sequer o alcançarão
mas a água baterá contra as rochas com mais força
fazendo lembrar o som estridente da picareta.
Num salto súbito acordas do sono
e as barbatanas movem-se.
mergulhas no aquário e nessa boca de vidro
também tu adormeces nele...
rainbowsky
2002
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1179 reads
Add comment
other contents of rainbowsky
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | Mistérios | 3 | 869 | 05/25/2010 - 22:10 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Histórias de Gato - 7 vidas - Lugares | 1 | 1.612 | 05/18/2010 - 22:08 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Histórias de gato - 7 vidas - Gelo | 1 | 840 | 05/16/2010 - 12:20 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Tens de ler este poema para saberes o que ele contém | 0 | 1.098 | 05/15/2010 - 12:41 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O tempo detém o tempo | 1 | 785 | 05/11/2010 - 17:27 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Fria | 3 | 1.199 | 05/11/2010 - 15:53 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Eu? Eu sou. | 4 | 1.249 | 05/10/2010 - 17:15 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A flutuação do silêncio | 2 | 1.488 | 05/09/2010 - 15:49 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | O princípio do fim | 2 | 1.220 | 05/09/2010 - 15:18 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Quero apenas... | 5 | 1.189 | 05/08/2010 - 19:41 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Lado a lado | 2 | 814 | 05/07/2010 - 20:41 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Dupla face | 0 | 1.391 | 05/07/2010 - 20:13 | Portuguese | |
Poesia/Acrostic | (Dedicado) Ao poeta nunomarques | 5 | 1.742 | 05/06/2010 - 21:29 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os mapas secretos dos teus olhos | 2 | 1.411 | 05/05/2010 - 23:00 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Execução Clássica | 5 | 976 | 05/05/2010 - 22:19 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Um sentimento | 2 | 1.285 | 05/03/2010 - 17:49 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Chorar o mar | 2 | 1.356 | 05/03/2010 - 17:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Sombras diversas | 3 | 1.216 | 04/30/2010 - 12:18 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Assombro | 6 | 1.623 | 04/30/2010 - 12:15 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Se o tempo | 5 | 1.346 | 04/30/2010 - 12:14 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Da minha janela | 3 | 899 | 04/15/2010 - 17:58 | Portuguese | |
Poesia/General | Histórias de gato: 7 vidas - Casamento | 0 | 1.307 | 04/15/2010 - 00:28 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Xenofobia à célula larápia | 1 | 1.499 | 04/14/2010 - 20:24 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Testo o testamento onde não morri | 2 | 1.177 | 04/13/2010 - 18:42 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Histórias de gato - 7 vidas ( Cor) | 4 | 1.043 | 04/13/2010 - 13:44 | Portuguese |
Comments
âncora salgada
Poema fantástico!!!
:-)