Fragmentos (Wladimir Maiakóvski)
FRAGMENTOS
1
Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso
2
Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez
sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te
com o
relâmpago
de mais um telegrama
3
O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano
4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo
5
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.
Wladimir Maiakóvski (1843-1930), reconhecido como maior poeta russo moderno.
(tradução: Augusto de Campos)
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 4808 reads
other contents of AjAraujo
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Intervention | A uma mendiga ruiva (Charles Baudelaire) | 0 | 9.168 | 07/03/2014 - 01:55 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Coração avariado | 1 | 4.225 | 06/25/2014 - 02:09 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Flores bonecas | 2 | 2.774 | 06/24/2014 - 19:14 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Caminho de San Tiago | 0 | 3.638 | 06/23/2014 - 23:31 | Portuguese | |
Poesia/Sonnet | Há em toda a beleza uma amargura (Walter Benjamin) | 1 | 4.130 | 06/20/2014 - 20:04 | Portuguese | |
Poesia/Sonnet | Vibra o passado em tudo o que palpita (Walter Benjamin) | 1 | 3.995 | 06/19/2014 - 22:27 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Sonhe (Clarice Lispector) | 1 | 4.514 | 06/19/2014 - 22:00 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Dá-me a tua mão (Clarice Lispector) | 0 | 3.945 | 06/19/2014 - 21:44 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Precisão (Clarice Lispector) | 0 | 4.469 | 06/19/2014 - 21:35 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Pão dormido, choro contido | 1 | 2.794 | 06/13/2014 - 03:02 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | A dívida | 1 | 3.241 | 06/12/2014 - 03:52 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Eco das Ruas | 1 | 2.061 | 06/12/2014 - 03:38 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Maneiras de lutar (Rubén Vela) | 2 | 3.246 | 06/11/2014 - 10:22 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O médico cubano, o charuto e o arroto tupiniquim (cordel) | 2 | 5.604 | 06/11/2014 - 10:19 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Espera... (Florbela Espanca) | 0 | 2.337 | 03/06/2014 - 10:42 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Interrogação (Florbela Espanca) | 0 | 3.541 | 03/06/2014 - 10:36 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Alma a sangrar (Florbela Espanca) | 0 | 2.326 | 03/06/2014 - 10:32 | Portuguese | |
Poesia/Sonnet | Vê minha vida à luz da proteção (Walter Benjamin) | 0 | 2.280 | 03/03/2014 - 12:16 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Arte poética (Juan Gelman) | 0 | 3.070 | 01/17/2014 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | A palavra em armas (Rubén Vela) | 0 | 2.362 | 01/17/2014 - 22:01 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | A ÁRVORE DE NATAL NA CASA DE CRISTO (FIODOR DOSTOIÉVSKI) | 0 | 2.088 | 12/20/2013 - 11:00 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Aqueles olhos sábios | 0 | 3.379 | 10/27/2013 - 20:47 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Asteróides | 0 | 2.382 | 10/27/2013 - 20:46 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | O que se re-funda não se finda | 0 | 2.675 | 10/27/2013 - 20:44 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Para mim mesmo ergui…(Aleksander Pushkin) | 0 | 2.758 | 10/15/2013 - 23:14 | Portuguese |
Add comment