Cisnes Brancos (Alphonsus de Guimaraens)
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.
Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.
Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.
Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.
Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...
Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: - Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 2436 reads
other contents of AjAraujo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | Auto de Natal | 2 | 3.814 | 12/16/2009 - 02:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Natal: A paz do Menino Deus! | 2 | 5.418 | 12/13/2009 - 11:32 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Uma crônica de Natal | 3 | 4.334 | 11/26/2009 - 03:00 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Natal: uma prece | 1 | 3.001 | 11/24/2009 - 11:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Arcas de Natal | 3 | 5.784 | 11/20/2009 - 03:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Queria apenas falar de um Natal... | 3 | 6.516 | 11/15/2009 - 20:54 | Portuguese |
Add comment