Inferno, V, 129 (Jorge Luis Borges)
Deixam cair o livro, porque sabem
que são personagens do livro.
(Sê-lo-ão de outro, o máximo,
mas isso não lhes interessa.)
Agora são Paolo e Francesca,
não dois amigos que partilham
o sabor de uma história.
Olham um para o outro com incrédula maravilha,
as mãos não se tocam.
Descobriram o único tesouro;
encontraram o outro.
Não atraiçoam Malatesta,
porque a traição exige um terceiro
e só existem eles no mundo inteiro.
São Paolo e Francesca
e também a rainha e o seu amante
e todos os amantes que existiram
desde Adão e a sua Eva
no prado do Paraíso.
Um livro, um sonho revela-lhes
que são formas de um sonho que foi sonhado
em terras de Bretanha.
Outro livro fará com que os homens,
sonhos também, os sonhem.
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