QUERO MORRER

Quero calar a voz
com lâminas que perduram
o pesadelo ao tempo despenhado
no nevoeiro que perfuma a morte.

Quero demolir a lua
da noite semeada num caixão
mendigado amor em luares atrozes.

Quero rasgar a poesia
com pedras polidas a fogo
no caminho fel da madrugada
que se arrasta inverno na minha boca.

Quero apagar o sol
deste céu tenso que me tipografa
no olhar rudes cemitérios à tona da alma.

Quero punir as estrelas
com palavras vergastadas
pela mão do ódio que me desfigura a cara.

Quero dissipar o desejo
sepultado numa cama feita de inferno
na minha razão ferida por tormentos de nada.

Quero evaporar o mar
do corpo com lágrimas espetadas
em contorno eivado de dor na minha sombra.

Quero secar a chuva
deste grito cadáver que entronca
os sonhos crucificados em altares pardacentos.

Quero aprisionar o vento
na chama de uma vela que ecoa
do fundo de um poço que me esquarteja de medo.

Quero fechar os olhos
com véus de lamaçais assombrados
onde se somam clarões na malignidade das serpentes.

Quero morrer,
abram alas no vosso precipício para o meu adeus passar.
 

Submited by

Thursday, February 10, 2011 - 17:56

Poesia :

No votes yet

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 17 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Comments

rainbowsky's picture

Poderoso

Olá amigo Henrique!

Sem dúvida o mais poderoso poema que li de ti.

De indiferença não se vestirá quem o ler.

E termina de forma não menos lacinante:

 

abram alas no vosso precipício para o meu adeus passar.

 

Muito bom!

Abraço

 

rainbowsky

Dionísio Dinis's picture

Apesar da toada de desalento

Apesar da toada de desalento e/ou descrença, estamos perante uma poesia poderosa e que não deixa ninguém indiferente.

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 12.617 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 55.600 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 10.634 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 13.047 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 11.279 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 13.386 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 10.276 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 12.628 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 9.548 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 10.857 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 9.655 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 14.832 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 10.217 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 9.670 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 12.031 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 7.660 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 12.388 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 10.937 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 10.442 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 10.753 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 8.722 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 8.072 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 7.576 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 11.171 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 11.413 01/16/2015 - 20:47 Portuguese