O SILÊNCIO É UM LIVRO ONDE ESCREVO OS RUÍDOS DA VIDA
Sinto que tudo me foge
por entre os dedos da palavra que escondo no silêncio.
O silêncio é um livro onde escrevo os ruídos da vida.
Onde desfolho páginas e mais páginas,
mas o mesmo vazio se reescreve no declive
das mesmas sombras, das mesmas lágrimas que me escrevo.
É nessas sombras que temo
que tudo pare à janela dos meus olhos.
É sobre essa janela
que me empurro ao caminho,
mas há uma teia de escuros que me impede cair na paisagem.
Nessa paisagem de luz e cor
onde me tento voar as faces dos sonhos,
mas sou como que um anjo esculpido de pedra.
Uma pedra desenhada de asas imóveis,
atadas ao tecto do destino que me encerra à realidade.
É tão real este meu correr perdidamente,
mas por mais perdido de mim que corra,
os sentimentos frios perseguem-me a velocidades vertiginosas.
Mechas que me fazem
subir ao mais alto mar da minha loucura,
mas o chão que me dói aos pés apodera-se
de todas as alturas a que o imaginário me poderá elevar.
Eis que me elevo ao que me quero ser e não consigo sê-lo.
Sê-lo-ei apenas grito onde não me ouço.
Sê-lo-ei apenas um eco de mofos
por entre as paredes que separam o céu da terra.
Do céu caio chuva de lodo, da terra choro desalmadamente.
Mergulho sem alma em águas
que se partem para que sinta na queda do corpo
as rochas crespas do tempo.
Olho-me sem relógio ao espelho
esbofeteado por reflexos invisíveis.
Sem me ver,
tento ir ao meu encontro
para que a mim chegue palpável,
mas a distância para que me alcance não existe.
O que existe sim,
é um espreitar um pouco de mim na outra margem
que se afasta sobre uma ponte feita de amores desertos.
Desertos de areia movediça
onde inquietamente morto me digo adeus
com acenos que não sei ler.
Com olás que não sei escrever.
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Poesia :
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Comments
silêncio
O silêncio fala conosco todos os dias, pena que poucos ouvem e deixam de aprender a escrever com mais sapiência e paciência no livro da vida.
Muito lindo teu texto.
ZZ