Aspiração (Agostinho Neto)

Ainda o meu canto dolente

e a minha tristeza

no Congo, na Geórgia, no Amazonas

 

Ainda o meu sonho de batuque em noites de luar

 

Ainda os meus braços

ainda os meus olhos

ainda os meus gritos

 

Ainda o dorso vergastado

o coração abandonado

a alma entregue à fé

ainda a dúvida

 

E sobre os meus cantos

os meus sonhos

os meus olhos

os meus gritos

sobre o meu mundo isolado

o tempo parado

Ainda o meu espírito

ainda o quissange

a marimba

a viola

o saxofone

ainda os meus ritmos de ritual orgíaco

 

Ainda a minha vida

oferecida à Vida

ainda o meu desejo

 

Ainda o meu sonho

o meu grito

o meu braço

a sustentar o meu Querer

 

E nas sanzalas

nas casas

nos subúrbios das cidades

para lá das linhas

nos recantos escuros das casas ricas

onde os negros murmuram: ainda

 

O meu Desejo

transformado em força

inspirando as consciências desesperadas.


Agostinho Neto (1922-1979), médico e poeta angolano.

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Tuesday, May 17, 2011 - 02:50

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