HORTO DO SER SEM REBENTOS, MORTO


Espelha-se o fogo soturno no meu corpo,
espalha-se em mim horto do ser sem rebentos, morto.

Arder submisso ao destino que me traz ao pico de mim,
inventado de imperfeição.

Só que a mim ainda não cheguei,
ainda me destilo perfeito, peno o peito do pensar.

O silêncio alberga a corda
a que me agarro no outro lado do mundo,
em óbito profundo para renascer deste lado em vós.

Mas ainda não me nasci dessa voz.

Remo ser o som que o mar acorda pleno de insónia.

Mas durmo ao encontro do sonho antes do sono.

Gritos de mármores frios desfraldam saudades,
pomo acerbo onde me escuto caminhar lágrima rasgada.

Fico-me desmaiado, estirado sobre o musgo do infinito,
pedestal do meu estar no covil da insânia.

A garganta do pensamento fala roucas as veredas
por onde me acosso.

Ir encalhado no voo da ânsia que me cala o mover dos lábios,
encaracolados de sede infame.

Agasalho-me de poemas de amor
que me trazem na sua dor áureas nuas,
luas que me descrevem com formas minhas, daninhas.

Poesia em ardência onde não me pertenço.

Poeta intenso, envelheço as palavras
com espaço desmedido para me caber nos seus sofismas.

Faço da esfera do tempo um horário em linha recta,
seta em ziguezague.

Dos meus olhos, os leitos são abstractos
que me modelam a alma em glória.

Mas é o pranto que ara a minha história,
o solo infértil dos meus passos filtrados pelo adeus
que não vai embora, que demora em mim.

A esperança
não passa de uma pedra estéril,
veneno que arremesso à cabeça da vida
com a calvície da minha sina, pela mão do meu não.

Mas sou eu quem sangra estio triste.
Sou eu quem não existe em mim.

 

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Sunday, May 29, 2011 - 20:34

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