DÓI-ME A BOCA DE TANTO SILÊNCIO

Sou tão só um homem só,
um poeta na multidão.

Um louco diferente dos loucos.

Meus olhos são um empilho de pedras toscas
à espera de serem arremessadas ao charco
das lágrimas no meu deserto.

Meu olhar são palavras chateadas
num gume de leitos indiferentes no altar de solidão
que me acerca roseiral.

Tudo quanto me toque o olhar é tristeza,
é vazio que anatomiza de gelo os meus passos.

Minha voz é o martelo de uma pedreira
desbastadora de montanhas erguidas
em esperança minudenciada em pó.

Falo gritos violados por ódio ao céu
desfasado da lua que sussurra fustigada
de berços espinhosos ao meu respirar aturdido.

Suspiro murmúrios à vastidão do mar
em busca de uma ilha para abrigar
o meu choro num cais de beijos.

Dói-me a boca de tanto silêncio,
morre-me a imortalidade da alma
ansiosamente.

Meus sonhos são escadas encaracoladas
em volta das serpentes pecadoras
que me rodeiam a mente.

Amar é um pântano onde os nenúfares se perdem
do meu fundo difícil de amansar e secam
tal cacto se apodere do oásis.

Desejar é uma sopa de feitiços mal feitos
no caldeirão da carne em lume brando.

Minhas mãos são esporões atiçados por fogos
que me espancam com ventosas
apegando-me ao nada.

Meu pensamento é um fio de seda
em nó de rufos loucos que me atam
ao pleonasmo dos dias.

Meu corpo é um lodaçal de musas
que me cobrem o rosto com véus
de escuridão imensa.

As volúpias das musas são ventos
de ausência que me crispam o caminho.

Meu caminhar é inóspito ser demolido
em súplicas aranhuças roçagando-me
a pele com arrepios de morte.

Sou guitarra de cordas empolgadas
por feições sem unhas que me toquem.

Submited by

Monday, May 30, 2011 - 11:58

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 9 years 44 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 8.822 05/26/2020 - 22:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 49.193 06/11/2019 - 08:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 7.695 03/06/2018 - 20:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 8.336 02/28/2018 - 16:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 7.657 02/10/2015 - 21:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 7.470 02/03/2015 - 19:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 7.574 02/02/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 8.020 02/01/2015 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 6.475 01/31/2015 - 20:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 6.256 01/30/2015 - 20:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 6.061 01/29/2015 - 21:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 7.309 01/29/2015 - 18:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 5.289 01/29/2015 - 00:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 6.581 01/28/2015 - 23:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 5.948 01/28/2015 - 20:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 5.127 01/27/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 6.792 01/27/2015 - 15:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 6.315 01/26/2015 - 19:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 7.124 01/25/2015 - 21:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 5.542 01/22/2015 - 21:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 5.851 01/21/2015 - 17:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 6.154 01/20/2015 - 18:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 4.914 01/19/2015 - 20:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 7.664 01/17/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 7.014 01/16/2015 - 19:47 Portuguese