DÓI-ME A BOCA DE TANTO SILÊNCIO
Sou tão só um homem só,
um poeta na multidão.
Um louco diferente dos loucos.
Meus olhos são um empilho de pedras toscas
à espera de serem arremessadas ao charco
das lágrimas no meu deserto.
Meu olhar são palavras chateadas
num gume de leitos indiferentes no altar de solidão
que me acerca roseiral.
Tudo quanto me toque o olhar é tristeza,
é vazio que anatomiza de gelo os meus passos.
Minha voz é o martelo de uma pedreira
desbastadora de montanhas erguidas
em esperança minudenciada em pó.
Falo gritos violados por ódio ao céu
desfasado da lua que sussurra fustigada
de berços espinhosos ao meu respirar aturdido.
Suspiro murmúrios à vastidão do mar
em busca de uma ilha para abrigar
o meu choro num cais de beijos.
Dói-me a boca de tanto silêncio,
morre-me a imortalidade da alma
ansiosamente.
Meus sonhos são escadas encaracoladas
em volta das serpentes pecadoras
que me rodeiam a mente.
Amar é um pântano onde os nenúfares se perdem
do meu fundo difícil de amansar e secam
tal cacto se apodere do oásis.
Desejar é uma sopa de feitiços mal feitos
no caldeirão da carne em lume brando.
Minhas mãos são esporões atiçados por fogos
que me espancam com ventosas
apegando-me ao nada.
Meu pensamento é um fio de seda
em nó de rufos loucos que me atam
ao pleonasmo dos dias.
Meu corpo é um lodaçal de musas
que me cobrem o rosto com véus
de escuridão imensa.
As volúpias das musas são ventos
de ausência que me crispam o caminho.
Meu caminhar é inóspito ser demolido
em súplicas aranhuças roçagando-me
a pele com arrepios de morte.
Sou guitarra de cordas empolgadas
por feições sem unhas que me toquem.
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