O nascimento do poema (Adélia Prado)
O que existe são coisas,
não palavras. Por isso
te ouvirei sem cansaço recitar em búlgaro
como olharei montanhas durante horas,
ou nuvens.
Sinais valem palavras,
palavras valem coisas,
coisas não valem nada.
Entender é um rapto,
é o mesmo que desentender.
Minha mãe morrendo,
não faltou a meu choro este arco-íris:
o luto irá bem com meus cabelos claros.
Granito, lápide, crepe,
são belas coisas ou palavras belas?
Mármore, sol, lixívia.
Entender me sequestra de palavras e de coisa,
arremessa-me ao coração da poesia.
Por isso escrevo os poemas
pra velar o que ameaça minha fraqueza mortal.
Recuso-me a acreditar que homens inventam as línguas,
é o Espírito quem me impele,
quer ser adorado
e sopra no meu ouvido este hino litúrgico:
baldes, vassouras, dívidas e medo,
desejo de ver Jonathan e ser condenada ao inferno.
Adélia Prado.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1371 reads
other contents of AjAraujo
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | Auto de Natal | 2 | 2.266 | 12/16/2009 - 02:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Natal: A paz do Menino Deus! | 2 | 3.902 | 12/13/2009 - 11:32 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Uma crônica de Natal | 3 | 3.211 | 11/26/2009 - 03:00 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Natal: uma prece | 1 | 2.464 | 11/24/2009 - 11:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Arcas de Natal | 3 | 3.977 | 11/20/2009 - 03:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Queria apenas falar de um Natal... | 3 | 4.520 | 11/15/2009 - 20:54 | Portuguese |
Add comment