ILHÉU DE VENTOS SILENTES


Passa por mim a tristeza, fria.

Como se eu fosse uma rua, em miopia.

Como se ela fosse um farol
que me iluminasse o mundo, sem fundo.

Limbo mascarado de lua cheia,
farta de rastejar pelas urtigas da noite.

Açoite em grito,
proa onde me sinto ser breu,
ilhéu de ventos silentes, lesmas.

Lentidão onde me encontro pássaro,
enjeitado em ninho empalhado de solidão.

Desafino que em mim faz a sua cama, em espinho.

Chama em choro, anilha em não.

Voz em desvairo pão, lágrima ácida.

Essa fossilização do tempo
que meu rosto canta sem sol, sem dó.

Geada acutilante pela qual
me adoecem as mãos em bofetada,
dada ao corpo em tempestade, em coma.

Pigmentações de inferno
que em mim jorram o seu deserto, o soro da sua morte.

Desfragmentações
que em mim plantam o norte
numa rosa-dos-ventos desverdecida,
embriagada de amarelos outonais, burlescos.

Em fio de nada, essa filha
de uma sombra algemada ao meu rasto,
sepultada num mastro em ziguezague, balbo.

Besta de mil cornos, de mil invernos
que em mim caem veneno redito, em voz esmurrada.

Sanguessuga que se possui
dos sofismas das minhas veias, que faz
do meu sangue o óleo das suas candeias, de luz negra.

Alumiações falsas, mentira feita
de abismos que fazem dos meus pulsos cascos
de barcos ancorados em caramelo às suas lâminas, insanas.

Dança coxa, fingida.

Melodia muda, víbora
que em beijo morto me morde, que me rói em poema.

Dentada em maça virgem, pecada num pomar de fantasmas.

Estrela que em trevas me cega,
que me entrega a alma ao fundo do mar.

 

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Tuesday, June 14, 2011 - 23:51

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