Cedo serei, sou …

Por vezes não sei

Por onde ando, se no campo da batalha
Onde quem não m’lembra sou
Ou aonde crês tu ser agente secreto
Do que passa e passou – sem se mover,

Crês tu poeta ser, convence-te
Que a lembrança é passar e ver,
Convém ser o que passou pra ser,
Pra que fique do que penso o que sou

E pra que me lembres poeta, ou
Vento sendo, sou poeta, improfícuo
Eu sou, és tu meu solo infértil ou não,
Comecei cedo sendo faúlha,

Agora sou vento, bravio como convém,
Cedo serei mais além que desta vida,
Às vezes sou nem lembro o quê ou quem,
Entender-me cansa, sonhar menos,

As vezes as faúlhas queimam,
o estandarte e sujo-o de terra e hulha
Mas o vento ao passar como
Um rio, lava-me a consciência

E volto a ser criança brincando
Aos soldadinhos de chumbo,
Até rebentar outra terrível
Guerra do fogo mal apagado,

As vezes as faúlhas queimam
o estandarte e sujo-o de cinza
Eterna nos azuis montes
Por onde ando e faz frio e aí

Passo a ser eu, de novo Ivan,
Por vezes nem sei ao que vou
Preso, se à graça eterna ou apenas
Ao peso de um pedaço de carvão

E terra infértil, o artificio de um mendigo
É o instinto, em mim tão pacato
Que nem o sinto mover ou se por mim
Passou cem vezes sem duvidar que me divido,

Entre quem sou e quem nem serei …

Joel Matos (03/2018)
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Martes, Marzo 20, 2018 - 20:09

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