Eis-nos…

Eis-nos…

Eis-nos novamente os três, enfim, sozinhos,
Vaga memória em mão, sitiada em andamento,
Correntes possantes prostram paladares de elegia,
Incessante inadaptação – sono – puff, foi-se a alegria;

Há nós os três, novamente reclusos e perfurados,
Não aborrecidos nem conturbados; mais líquidos
Que poetas de escrita corrida, haja paz em vermelho,
Gotículas de sonhos profanados, o adeus do espelho

Do Medo, nosso mestre na inquietude vil do tempo,
Razões sombrias, hora que resfria, sem real intento,
Ouvindo, não escutando, não pertenceis nestes aquis,
Sentindo, não caminhando, errante entre não sentis;

O algor carpido que se esgueira pela opaca vidraça,
Em contexto erróneo, rebatido no ridículo anónimo,
Verte inúmeras falácias, em redor a rede se enlaça,
Evidenciam-se as vozes expressas pelo criptónimo,
O percurso é resto, indigno de perscrutação atenta,
A apreensão é muita e mais que enlevar, desalenta;

Mais que um momento, pertencente ao Sr. Tempo,
Nosso por inteiro, sendo gentil enteado, vil rameiro,
Sem simplicidade, emaranhado no muy complicado,
Rebaixado ao acaso, à probabilidade do estado,
Raquítico de índole, crítico ao revés da moeda,
Dormência do sonolento em buliçosa queda,
Correndo onde não se encontra, o sonho tardio,
Recesso em Inverno primaveril, outonal estio,
Novamente o clima estiolado surge no aberto,
Horizontal monómio, honrando os que dormem,
Portador do sorriso disforme e o mirar irrequieto;

Em constante mutação, a indefinida ostentação,
Com amiúde, surgem suas silhuetas à espreita,
Do descuidado transeunte, onerado pela pulsação,
Encetada a pureza, golpeada de sanguínea colheita,
Como apenas a beleza prostrada em joelhos sabe,
A mente que sofra, o sentir cesse e o mundo desabe;

Pois há vezes que viver é sal em apostema aberto,
Onde o sonho fenece e o cenário se imbui de enxofre,
Sem segundos cativos para concretizar o ser liberto,
De trama desfiada, novelo estirado como quem sofre,
Em tempo pré-recordado de e em subtil estratificação,
Nem ruído vale, aquando o estagnar da auto-realização;

É a censura pré-homologada: a do Viver abstinente,
Culpo sim, esta presença ausente, o coração batente,
De porta renunciada, esta estima consumista de ar.
Vai-se o oxigénio, fica o resto para enfim respirar,
O ónus da mente esquiva, do pensamento inapto,
Da ânsia pela sedimentação, em horizontal substrato,
Assunção rejeita a incredulidade do exímio descrente,
Outrora doente, agora provavelmente apenas incoerente,

Este corpo dejecta Vida, cauteriza a insanável ferida,
Habitante da vala comum em caminhada abstraída,
Enfartado por ambrósia pútrida, como decaem os divos,
Das altas poltronas estelares, em somatórios subtractivos,
Fica o vazio liberto de profundidades - o não ar;
Na estranheza da alongada permanência - a oxidar;

Ficam as impressões do quem escutou estrelas cair,
Abatido no enegrecido, ciente que a terra há-de cobrir,
As ilustrações pictográficas em relevos acidentados,
Soam a promessas eternas sobre textos ensaiados,
Em esperança anódina, mas sobretudo sinónima,
De contusões e confusões, unidas na vertente,
Respirar faz bem e recomenda-se a boa gente,
Nosso barquito vai navegando na sua presença,
Seu desvelo minha maior sorte: anti-doença.

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Martes, Enero 26, 2010 - 02:06

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Papel

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Re: Eis-nos…

Obrigado pelo texto em forma de poesia,
gostei de ler os meus parabéns.
Um abraço
Melo

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Re: Eis-nos…

Belo e longo poema.

Parabéns, gostei deveras.

Um abraço,
REF

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