Tens um granda par de mamas

Espera…
A rua desapareceu e tu estás a afastar-te em efeito “Zoom” especado na calçada defronte da passadeira.
As buzinas e as vozes estão agora numa frequência cósmica estilo “flash” de “branca”, e com a mesma sugestão de vómito no estômago.
Afinal o que fazes aqui parado com a mala à tiracolo num subúrbio fétido e mal amanhado?
Dás dois passos em inversão lenta e sentas-te num lancil a adivinhar um cataclismo de frustrações.
Não fosse aquela gaja que andou contigo no liceu a passar por ti com um exército de putos a chamar-lhe mãe, e tu provavelmente tinhas atravessado a estrada sem náusea e sem remorso…Como é que se chamava a gaja…pá?
Célia, sim Célia, era aquela espécie de mamalhuda que inspirava ao desfloramento manual de legiões de juvenis rebarbados, que se perdiam em tertúlias em torno do acne e a melhor maneira de bater couros ás Célias com mamas e ás outras amigas do baralho.
Pá…e tu aqui, 37 anos depois de rebentarem as águas á tua velhota e tu rebentares em berros que punham surdos a ouvir, estás aqui com uma quebra tremenda a regredir mentalmente com um pânico esquisito, que mais parece os fanicos improvisados das tuas vizinhas hipocondríacas que vendem saúde e má língua carregadas de cinismo quando te dão os bons dias.
-Estás mais gordo…então já casaste?
E tu com aquele sorriso simplório de comunhão solene a dizeres que vais casando e a rezar para que apareça outra cínica católica para ir beber a bica das dez com a tua vizinha, que desde os doze anos já te meteu mais de cem quilos em cima e te perguntou para cima de setecentas vezes se já deste o nó com alguma Célia do liceu.
De facto não casaste…
Não tens filhos, não tens um emprego interessante, fumas olimpicamente, bebes como se não houvesse amanhã, e cagas-te nos transportes públicos.
És daquele tipo de barrasco que a Célia, vê mas não fala, tão digna a entrar na Renault Space a prestações e algumas prostrações de barriga para cima que ajudam a pagar as contas do leite e do papel higiénico que limpa o cú aquele imbecil careca que ela escolheu para marido por ser um corno manso e ter emprego fixo numa repartição de cabrões que casaram com todas as Célias deste paìs.
Pá…mas estás sentir-te mal!
Agora que até tu, dás por ti numa espécie de síndrome evolutivo típico dos “Amigos de Alex”, com um emprego desinteressante mas fixo, que conseguiste apagar muita da má imagem que te acompanhou durante as metades das décadas de 80 e 90, que tens uma relação fixa e duradoira com a tua namorada de há 13 anos e que levou com mais baratos que todas as promoções juntas, agora que tens um carro em segunda mão para as voltinhas domingueiras a centros comercias á pinha de Célias e cabrões, dá-te um fanico típico de gaja na menopausa?
Pois é amigo…
Esse tremor nas canetas e os suores gelados na tromba, são os passados a visitarem-te…
São as Célias e as amigas e todos os cabrões, que embalam fins-de semana em frente a máquinas de setas e karaokes a relembrar entre sorrisinhos imbecis um passado em que existiram só em espectro…sim em espectro.
O mesmo olhar de lado de há 20 anos atrás, a mesma esperteza saloia de repetir gloriosamente as mesmas baboseiras pela matraca fora que os fazia parecer indiscriminadamente uma seita de carneiros militantes enquanto jogavam basquet no campo do liceu enquanto tu e os outros que não jogavam a nada a não ser ao jogo do enrola aí mais uma, comíam as Célias e as amigas atrás do pavilhão polivalente.
E os gajos a formarem-se…
A engravatarem o canudo para ter um emprego decente e uma mamalhuda a confeccionar lasanhas pró jantar.
Um exército de putos a gritar pais e mães em modo holocausto familiar num quinto andar em Massamá.
Uma Sénic ou um Megane a prestações, com a cadeirinha do bebé de oferta…
E a Célia a passar, os carros a apitarem, um par de mamas nos teus olhos que já dissipam a névoa, os semáforos a mudarem de cor num frenesim e as amigas todas e os cabrões a arrancarem na hora de ponta, para aquecer a lasanha e tu a atirar setas, a fumar Marlboros nas mamas da Célia, os relógios a atrasarem com os ponteiros a andarem para a frente, os peidos no autocarro onde as Célias não entram…
Levantas-te num repente e pensas…deixa lá o pânico!
Só chamaram mãe á Célia…
Decerto que vão chamar a pai a outro cabrão qualquer que não tu.
Pôrra...olha lá ao que escapaste!!!
Atravessas a estrada e deixas o passado no vermelho do semáforo.
Célia…tens um granda par de mamas!

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Domingo, Febrero 21, 2010 - 00:20

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Lapis-Lazuli

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Comentarios

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Re: Tens um granda par de mamas

ÈS o maior adolfo!!! Não nos fazes meter os dedos á boca para vomitar, com poemas descritivos, paisagens elidicas. figuras de estilo de cabeleireiro. Foda-se , edita qq coisa rapidamednte. estás lá...com ou sem flash de branca. Sorry senhor Adolfo.(maisculas)

*idílicas (Nem vou apagar)

Imagen de Anonymous

Re: Tens um granda par de mamas

Boas Adolfo!!! Escolhi este poema como poderia comentar qualquer outro. Parabens!! Tu não escreves, tu disparas!! Metrica, Sonoridade, Violência, Conteúdo..etc... resumindo: Depositas tudo no que escreves. Continua!!

Imagen de Obscuramente

Re: Tens um granda par de mamas

E é de marlboro na boca, mortalha na orelha direita e filtro de cartão já enrolado na outra.... que escrevo com a mão direita, com o isqueiro entre os dedos e a esquerda já a ficar cheia... enrolo este em honra das mamas da tua Célia e do cu da minha Inês.

Todos temos os nosso unicórnios ou capricornios, cabras e seus machos que nos levam a perguntar... "O que vi eu naquela merda...?".

Serei nemesis de mim próprio, pois nenhuma figura fará justiça sobre a minha vontade de viver, do modo que me der prazer viver.

Gostei muito de te ler.

Abraço.

Imagen de Henrique

Re: Tens um granda par de mamas

As mutações do tempo oculto em distâncias esquecidas no dia-a-dia.

forte e com bastante realismo!!!

:-)

Imagen de vitor

Re: Tens um granda par de mamas

Gostei bastante deste texto, a narração que caracteriza a todos nós a breve passagem dos anos... e seus episódios.

Abraço Lapis-Lazuli.
Vitor.

Imagen de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Tens um granda par de mamas

Parabéns pelo belo poema.

Um abraço,
Roberto

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