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Deslembrança
I
Para ti que na inscrição desta letra não tens nome.
Presença incógnita dos meus passos oprimidos…
Poema fruto de todos os olhares caídos
Abraço a boca no desespero das tuas costas.
Aceno ultimo no portão do para sempre…
Trilho condenado aos cardos da deslembrança…
Corria o mundo descalço, alucinado…
Fotografia que guarda frágil a tua esperança.
Restam-me abraços nas quimeras do vazio
O frigorifico escurecido no teu canto
Congelo o sangue no teu corpo que partiu
Protesto gélido, mesa para um, mágoa de cancro.
Teorizámos a ser suor o ter eterno…
Do corpo em corpo, alma na alma, cara e coroa…
O manifesto em união de verão-inverno…
A conclusão dum barco sonho popa à proa.
Amarrotadas todas as intenções
Declaradas falidas nossas empresas…
O capital das nossas acções investidas
Lucram agora desgarradas incertezas.
Suspeito em morte a rotina das nossas horas
Do sempre o mesmo, das juras abraçados…
Serem rumos de distância estrada fora
Que fizeram os nossos peitos afastados…
II
Morte, morte…
Tenho cortes fundos de respiro vomito nos dedos, nas veias…
Do choro
Do grito
Dos teus olhos inundados
Das noites brancas, imprevistas e malogradas…
Esfrego o chão no corpo frio, espantalho feito de sal que se afunda em colírio outro, que não prantos por te querer nesta raiva de te amar.
Ressinto-te maldito o nome sem letra nem inscrição de um mal disposto acordar de vazios sobre vazios.
E quem és tu encantada em prisões feitas de mim por todas as artérias da cidade…
Morre, morre em mim, morre-me os teus modos e deglute o veneno do teu cheiro impregnado.
Permeiam então os copistas das novelísticas vontades, rebanhos quase em uníssono de todas as paixões romanescas que devaneiam até á morte e tu…
Morre-me, morre-me urgentes os sinais do segundo que aí vens a fumar névoas de adeus.
Morre-me a cama feita de linhos desapaixonados impressionados de ausência.
III
Tristes são os Outonos…
De uma tristeza tão serena que magoam folhas caducas numa saudade agridoce…
Estás em todas as esquinas.
Em todas as ruas…morta.
És o reflexo das montras que vivem atrás de mim.
O lugar no autocarro vago para te sentares.
Quero o não te querer…
Amo todas as prostitutas como mães de me ser colo.
Estou hipnotizado com a tua morte…
Para ti que na inscrição desta letra não tens nome.
Presença incógnita dos meus passos oprimidos…
Poema fruto de todos os olhares caídos
Abraço a boca no desespero das tuas costas.
Aceno ultimo no portão do para sempre…
Trilho condenado…
Aos cardos da deslembrança…
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Comentários
Re: Deslembrança
Doi a morte do que se queria estar vivo.
Mas pior que o que morreu é não sentir sequer o que partiu porque se apaga devagar...o agora corroi o passado. Separa.
Amanhã é tão longe e tão dolorosamente amnésico. Que há horas que queria sem ser masoquista que o aqui não se escoasse tão passivo.
Mas é boa a morte...porque assim como vivia outrém melhor que eu?
Re: Deslembrança
Um texto formidável. Gostei de ler. Abraços