Saudades do Braga

Claudia leu as palavras que escrevi ontem. Acho-a meio suspeita. Gosta de tudo que escrevo! Ontem chegou ao cúmulo de dizer que o que escrevi parecia Rubem Braga! Que distância me separa dele! Poderia escrever novamente sobre as distâncias que nos separam, mas esse era o tema de ontem... Hoje quero falar do Braga.
Ah Braga! Que falta fazes! Onde estão seus discípulos? Não consigo os encontrar. Talvez seja meio lógico. Que discípulo seu chegaria a se igualar ao mestre a ponto de o reconhecermos? A esses que estão aí falta o que sobrava em ti. A simplicidade simplim de Cachoeiro do Itapemirim. A ponte pênsil entre a meditação e o silêncio. As braguisses que deviam se esconder por detrás daquele bigode de pêlos tristes. Você bem sabia, Rubem Braga, que a rua bem brada. Que os cotidianos andavam contigo há anos. Que as meretrizes das praças matrizes com palavras abriam as aldravas. Que molhar as palavras com a água doce de Cachoeiro fazia chorar até mesmo sua amada Tônia Carreiro. Que a paixão não era tesouro que se encontrava no chão. Que até mesmo um pé de milho podia ter seu brilho. Que o Conde iria embora no bonde enquanto o passarinho permaneceria por aí, voandinho. Que enquanto Kenedy se acaba devemos nos concentrar na jabuticaba. Que a Segunda Grande Guerra nata tinha a ver com sua terra. Que nada poderia lhe desviar a atenção do homem que nada, primeiro um braço, depois o outro, nada. Que de sua horta em sua cobertura, você e seus amigos ébrios de Ipanema podiam ver as alturas da selva de prédios, coisa de cinema. Que se um sujeito falasse mal de sua Tônia conheceria a sua Lacônia. Que você preferia comer um anjo ao lado de um papo-de-anjo do que comer um papo-de-anjo ao lado de um anjo. Que a bendita da vida um dia acabaria, maldita. Que um dia, infelizmente, Braga se acabaria, tristemente.
Que praga fez com que se fosse o Braga? Câncer, esse maldito Lúcifer. Por vontade própria, foi cremado, coitado. Mas deixou seu legado.
É, Braga. Por onde andas? Por quais herdades? Por acaso sabes que deixastes muitas saudades? Para muita gente você fez um grande bem, grande Rubem. Às vezes, quando me falta uma palavra, rezo para ti, Braga. Se estiver me ouvindo, ache alguma e me traga...
 

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Martes, Mayo 17, 2011 - 19:03

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Maurício Decker

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