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PORTOS APÓCRIFOS …
As palavras são praças públicas,
são as minhas repúblicas de falas impudicas.
São as palavras os armários do meu sentir,
os pontos de partida para o que sou além do eu.
São elas o remoinho do meu estar,
são a minha saída dos nós que me atam às trevas.
Entre elas,
entrelinhas desenham vezes à voz
que do silêncio esboça plangência ao vento.
Suspiros de faíscas e facas.
Datas sem data na minha mão
como que latas aos pontapés pelo chão.
Parágrafos inquietos,
feitos de mil gente tangente a nada.
Gumes despertos em continuares
desencaixados dos teares da timidez.
Curvas anárquicas.
Virgulas que murmuram portos apócrifos.
Abrigos a céu aberto
num deserto de lágrimas mecânicas.
Sentidos tecidos por amor.
Tempestades escritas num coro de líricas
a babar de ódio as lâmpadas dos meus pontos finais.
Devaneios,
partituras deslocalizadas dos seios do norte.
Minúscula morte nos meios amplos da vida.
São as palavras
o capacete da minha loucura.
O balancete de uma aventura infinda.
São elas os pneus da minha alma
a derrapar-me o corpo em calma triste.
São elas o movimento do meu pensamento.
Versos como pista de corridas contra o tempo.
São as palavras o suor das minhas mãos
a trabalhar arduamente as pedras do destino.
São elas as pedras com que muro a noite.
São o travão do meu descontrole emocional.
As palavras são a savana onde sou animal à solta
na volta de cada sol.
.
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.
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