Assassinos

-Não vá o senhor suspeitar qualquer intenção.
-Que intenção?
Sei lá. Bar estranho. Quase onze da noite, sentado à minha direita, sem desgrudar os olhos de mim.
-Estava normal?
-Normal?!
-Bêbado, drogado?
Outro apareceu. À sua frente. Magro, calvo, de óculos, calça jeans, camisa olímpica amarela, cruzar de braços, melífluo, correntinha no pescoço.
-Bicha?
Como saber?
-Não o abordou?
Se tivesse abordado, tudo estaria esclarecido?
-Claro que sim.
Sim o quê? O creoulo alto chegou num carro branco, antigo. O outro chegou num carro último tipo, preto. Era branquelo, baixo. A mulher não saltou. Ele e o creoulo conversaram, cochicharam, a mulher sem sair do carro.
-Esperava algo?
Como saber?
-O quê?
O veado foi para dentro do bar, sentou-se, pôs-se a ver televisão.
O segundo assassino, o branco, entrou no carro. A mulher deu-lhe beijos estalados nas bochechas, foram embora.
O creoulo, o terceiro assassino, falou com alguém pelo celular, entrou no carro branco, também se foi.
A bicha, o primeiro assassino, se ergueu, as mãos nas cadeiras.
Na rua, o movimento continuava intenso.