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"De espectros e dor..." (Excerto) 1º livro

"Era noite ainda, e encontrava-me deitado na margem do lago. Um barco pesava sobre a margem e soube que de alguma maneira tinha alcançado o destino que me havia sido proposto alcançar. Aquele que me tinha deixado à mercê da dor, não se encontrava ao meu lado e julgo que sabeis que tal facto aliviou ainda mais o meu espírito…
Ao levantar-me, senti todo o meu corpo estremecer em meio a uma dor generalizada que teimava em envolver-me nos seus grilhões. A cada passo dado, visões de um vermelho vivo atingiam a minha mente como se tal cor fosse a que assombraria os mais próximos e os mais distantes momentos. Julguei, na altura, ser consequência de ter sido verdadeiramente exposto a uma luz de enorme intensidade, como se o que me tinha acontecido fosse mais uma das inúmeras realidades por onde poderia vaguear.
Sentando-me numa pedra, procurei distanciar-me de tudo o que me rodeava e encontrar algumas respostas para o meu infortúnio. No entanto, o que me atormentava não era somente o lugar onde me encontrava e o mistério em que me tinha inserido, mas também o facto de a minha alma não se encontrar completa, como se tivesse cometido um crime sem qualquer hipótese de redenção. Após uns minutos de descanso, senti a insanidade diminuir ao ponto de me poder novamente levantar e caminhar para onde fosse que eu devesse e pudesse caminhar…
Esperava que, durante a minha caminhada, o sol surgisse para mais uma era de luz, mas quis a noite que viesse algo mais.
Não é demais supor que neste lugar tão estranho, encontre algo ainda mais estranho embora a surpresa surja sempre impregnada num misto de ansiedade e descrédito. Uns bons passos para além da densa folhagem que torneava o lago, surgiu uma escadaria cujo propósito não me era possível conhecer pois o cimo da mesma encontrava-se coberto por ervas e folhas, e apenas a luz da lua cheia permitia observá-las. Curioso, subi os degraus que levavam ao cimo pois o Tempo a tudo permitia. Afinal, que mais poderia fazer neste recanto enlouquecido do Universo?
Que se poderá dizer da tranquilidade quando apenas a lembramos como uma memória já ida de séculos atrás? O fogo que nos aquecia nos meses de frio apartando-nos dos poemas de solidão, o manto de luz que resplandecia no alto simbolizando a fartura de tempos maduros, o sorriso angelical da bem – amada… Teria eu vivido tudo isso ou seriam sonhos que a solidão tece?
Aqui, neste vasto plano de cores acinzentadas, quedava-me pela brisa quente e tépida do sufoco que é sentir-se aprisionado e conhecia apenas o toque de um miserável desprezo sem sentido.
Com cada respirar, tombava uma ténue esperança, diminuía um pálido brilho, surgia o silêncio… Apenas os meus batimentos cardíacos ganhavam vida num compasso incerto, um misto de seriedade e embriaguez como se fosse, cada vez mais, hipnotizado pelo medo.
Não conseguia ver muito bem o que se escondia por detrás da densa folhagem que cobria a parte de cima da escada. No entanto, não sem alguma dificuldade, consegui abrir uma brecha de modo a avançar e descobrir se, de facto, a escada dava para algum edifício antigo. Os meus passos eram demorados e cautelosos pois o desconhecido de tal forma tem de ser penetrado. Incapaz de pintar uma imagem do que iria encontrar, os meus olhos procuravam ir mais além, embora a luz da lua tornasse impossível tal empreitada devido às nuvens que, por vezes, a cobria.
Embora cauteloso, não demorei muito em colocar um pé em falso e cair, uma vez mais, para a incerteza. A prudência muita vezes surge como falsa, levando-nos a crer ser apenas uma marioneta de um plano maior, um mero sacrifício da existência. No entanto, não levei muito tempo a encontrar o solo, e se me levantei incólume foi porque tive a sorte de este estar coberto por um manto de ervas e flores. No entanto, a luz da lua mostrou-me que o formato de tais plantas era incrivelmente aterrador.
As ervas mostravam-se altas e vistosas enriquecidas por um vermelho sangue que as seduzia para a vileza das mais torpes acções. As flores pareciam já murchas embora se mantivessem na vertical e assumissem uma cor tão escura que lembravam um abismo.
Nem nos meus piores pesadelos poderia imaginar encontrar-me em tal lugar… Um plano existencial em que tudo rugia à noite, em que o desprezo pelo dia tornava as palpitações cardíacas falíveis, ténues soluços que clamavam esperança… Meu Deus! Era tudo incrivelmente odioso!!!
De coração na mão, cobria os farrapos, que transfiguravam-se como plantas, com os pés, tentando isolar-me, procurando aliviar o desespero com uma pálida confiança de poder sair deste buraco imundo onde a Morte corteja até o ar…
A cada passo, uma sensação de cansaço abrigava o meu corpo, seduzindo-me para a impúdica magnitude de um reino que muito sofreria se acometido pelas visões da desregrada infâmia que tive, até agora, o horror de conhecer. Nunca tinha imaginado que ruína maior do que um cemitério pudesse existir!
Desejando apenas uns momentos de descanso, decidi deitar-me nesse manto de ervas e flores… Momentos que tão bem fariam ao meu corpo, não fosse o acordar…
Não sabendo contabilizar as horas que passaram desde o fechar e o abrir dos olhos (muito porque a noite, ao cair, pareceu nunca mais querer o Sol deixar subir), apenas foi-me permitido conhecer o facto de ser prisioneiro… Envolto por uma mortalha de ervas e flores, fungos e líquenes, era cativo deste enlouquecido cenário, um olho livre para me permitir conhecer tão maldita sorte…
Julguei estar perto do fim, que seria inteiramente coberto por esse manto de asquerosa podridão, que daí a uns momentos, o meu corpo desapareceria para sempre nos recônditos de uma insana Natureza. Pois… A mais preciosa das virtudes poderá ser a paciência, mas a fome de viver, se é que chamaria a isto de viver, não fica atrás.
Com um esgar de raiva, rasguei as ervas e flores, fungos e líquenes, estropiando os planos de quem quer que fosse que concedia o destino neste mundo arruinado. Se tivesse de morrer uma outra vez, seria de pé, pois ditaria os argumentos que antecedem o meu Juízo Final e não deixaria de urrar o que me conduz a caminhar!
Ainda estonteado pelo que me aconteceu, tardei em me pôr de pé. A raiva que me libertou, não era a suficiente para controlar os meus pensamentos e permitir-me uma acção ainda mais concreta em tão pouco espaço de tempo. Assim, após longos momentos, avancei num rumo incerto…
Nada se ouvia, a não ser os meus passos… O mesmo cenário de horas atrás e, com cada passo, uma nova sensação de sonolência que tentava, impiedosamente, combater por saber o resultado. Assim, pus-me a correr, gritando a todo o fulgor como se a adrenalina induzida me libertasse do cansaço.
Não era este o meu lugar! Não era este o meu destino! Não era esta a minha vontade! Os meus gritos soavam como trovões, a minha alma soava como Vida… Sairia deste recinto de malvadez e encontraria uma saída… Já bastava de tanta desolação! Se era este o Inferno dos suicidas, quem me dera nunca o ter cometido!!! "

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domingo, março 8, 2009 - 17:28

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