Lição de vida-11ºPARTE

- “Ricardo… Foi um erro vires até aqui” – disse-lhe acariciando-lhe o ombro.
- “Não…” – sorriu disfarçando o embaraço – “O teu quarto está bem até”
- “Como podes ver não tenho muito espaço mas enfim… lá me arranjo”
- “Pois…” – fizemos silêncio – “dormes sozinha?”
- “Sempre. A minha cama é só para mim.”
- “O teu namorado onde anda?”
- “Não tenho namorado”
- “Pensei que tinhas voltado para aquele Tom quando me largaste”
- “Não te larguei por nada nem por ninguém. O Tom morreu pouco depois de acabar-mos Tom” – disse-lhe vendo-o desconfiado das minhas palavras.
- “Eu não sabia” – baixou a cabeça.
- “Então, ficas a saber. E tu? Senta-te” – disse-lhe sentando-me na minha cama. Ele sentou-se a minha frente– “Que tens feito dessa vida?”
- “Estive em combates de karaté na Europa e estive um mês e tal nos Estados Unidos. Voltei á pouco tempo…”
- “Por isso é que a minha irmão não andava por casa!”
- “Ela foi comigo” – sorriu – “Da mesma maneira que tu eras para ir quando começamos a namorar”
Olhamo-nos.
- “A vida é assim. Dá muitas voltas” – disse-lhe levantando-me.
- “Porquê é que te levantaste?” – perguntou intrigado.
- “Porque… Porque estava farta de estar sentada. Fico com os pés dormentes”
- “Ou será medo de estar na mesma cama que eu?”
- “Ricardo, deixa de ser crente. Pode ser? Dá-me igual que estejas nessa cama. Não mexes comigo… não mais e porquê é que estamos a falar nisto, posso saber?”
Ricardo levantou-se.
Puxou-me pela cintura para perto de si.
O meu corpo moldou-se ao dele.
- “Claro que podes” – sussurrou enquanto me acariciava o rosto com os polegares.
Beijou-me.Tentei resistir ao beijo dele. As minhas mãos pressionavam os ombros dele, tentando-o afastar, mas ele não ia.
Agarrou-me com força e só me soltou quando sentiu que me tinha entregado ao beijo. Quando deixei a máscara cair e voltei a ser a menina indefesa e tímida que Ricardo sempre conhecera. Ai, as mãos dele deixaram de pressionar o meu corpo contra o seu e as suas mãos passearam pelos meus cabelos.
Eu beijava-o tentando recordar o que era um beijo com amor.
Há muito tempo que não dava um beijo.
Nos meus serviços os beijos não entram. São proibidos.
Há muito tempo que não sentia uma língua percorrer a minha boca com tanta ternura. Ricardo acariciava-me a língua em cada torção mais violento da mesma. Tornava-a frágil a cada segundo que passava com a sua boca colada á minha. Tornava-a vulnerável a cada toque na minha pele.
- “Pára” – disse-lhe afastando-me – “é melhor pararmos antes que te vás e me magoes”
- “Eu nunca te larguei. Fostes sempre tu que me largaste”
- “Não compliques Ricardo. Não te aproximes!” – ordenei-lhe vendo-o aproximar-se – “Será que tu não vês o que estás a fazer? Será que não vês aquilo que eu sou? Como podes estar comigo sabendo de tudo o que eu faço?” – perguntei revoltada – “Depois de saberes de tudo era suposto não me quereres ver nem pintada!”
- “Mas quero” – aproximou-se e colocou as suas mãos na minha cintura- “Quero saber de ti todas as manhas, todas as tardes e todas as noites. Volta para mim”- pediu-me arrumando-me uma madeixa de cabelo da cara – “Eu amo-te tanto Inês, mas tanto…” – disse-me emocionado.
- “Pára Ricardo. Vai embora” – Ele não me respondeu. Preferiu ficar a olhar para mim e a fixár-ma. – “Já Ricardo! Saí daqui! Será que não vês que me fazes mal?” – gritei-lhe abrindo-lhe a porta.