Lição de vida- 5º parte

- “Não sei…” – baixou a cabeça – “Eu nunca cá estava e tu… Tu tinhas uma vida social activa”
- “Ricardo…” – respirei fundo enquanto as lágrimas começavam a cair – “Tenho muita pena de nos ter destruído desta maneira”
- “Onde queres que te deixe?” – perguntou mudando de assunto.
- “Eu vou a pé” – disse disfarçando as lágrimas.
- “Não queres que te leve?”
- “Não.” – Fizemos silêncio – “Fica bem” – acariciei-lhe a face.
- “Tu também” – sorriu-me timidamente – “Quando nos voltamos a ver?”
- “Não sei.”
Aproximei-me dele e segurei-lhe a mão. Beijei-lhe levemente os lábios. Ele ficou admirado com a minha atitude e foi incapaz de fazer algo. Apenas fechou os olhos assim que sentiu o toque dos meus lábios nos seus.
Afastei-me e larguei-lhe a mão.
- “Eu…” – começou por dizer.
- “Não fales. Ias estragar tudo”
olhei-o uma última vez e parti, deixando-o imóvel e sem poder de raciocínio rápido.
Já ia longe, muito longe quando ele finalmente voltou a si.
Entrou novamente em casa sem pronunciar uma palavra que fosse e subiu para o seu quarto deixando Joana e Margarida curiosas.
Subiram atrás dele.
- “Que foi que se passou?” – perguntou a irmã de Inês
- “Nada de especial…”
- “Ricardo, não me mintas. Sou tua irmã e sei que nos estás a mentir!” – interveio Margarida.
- “Eu ainda gosto dela”
- “Tu quê?” – perguntou Joana – “Mas és parvo ou quê? Ricardo, ela anda na droga! Ela prostitui-se e vendeu o teu próprio carro! Como podes gostar dela?”
- “Como consegues falar assim? Ela é tua irmã!”
- “Ela era minha irmã Ricardo” – disse desgostosa – “Deixou de o ser há muito tempo”
- “Não fales assim Joana!” – exclamou Margarida.
- “O quê? Também tu Margarida? Também tu estás contra mim?” – perguntou a loira visivelmente triste.
- “Não se trata de estar a favor ou contra. Ela é tua irmã, e isso nunca mudará. Eu gosto dela, e isso parece-me que tão cedo também não mudará. Não a suporto ver naquele estado. Naquele Mundo…” – lamentou o Ricardo.
- “Lembraste do que nos aconteceu da última vez que a tentamos ajudar Ricardo? Lembraste?” – disse andando de um lado para o outro – “Tu ficaste sem o teu carro e eu sem o telemóvel!”
- “E depois? Já sabíamos ao que íamos! Ouve lá, preferes salvar a tua irmã ou deixa-la lá? E se ela for morta?”
- “Mais dia, menos dia ela vai morrer Ricardo. Ela não tem solução. Até ela já chegou a essa conclusão!”
- “É tua irmã caraças!” – gritou Ricardo – “Como podes falar com essa naturalidade sobre a morte da tua irmã?”
- “Já te disse que a minha irmã morreu há muito tempo!”- gritou de volta e as lágrimas assaltaram-lhe os olhos.
- “Não fiques assim” – pediu Margarida a Joana vendo-a quase a chorar.
- “Vou dar uma volta. Até amanha” – disse a loira saindo do quarto.
- “Coitada…” – disse Margarida num suspiro.
- “Não sei o que devo fazer Margarida” – confessou Ricardo esfregando a cara – “É que não sei mesmo. Preciso dela. Eu gosto dela. E ela de mim… mas a Joana não deixa de ter razão”
- “Ricardo, mesmo que ela deixe a droga… Ela nunca será como nós. Ela prostituiu-se. Ela roubou. Ela mentiu…”
- “Não me confundas mais mana!”