Lição de vida- 2º parte

Mãe de Inês (a narrar a história)

No início, a Inês não era assim.
Ás sextas-feiras ia dormir a casa de uma amiga. Dizia-me que não iriam sair, pois a mãe dela não as deixaria.
Eu ficava descansada.
Por várias vezes liguei á mãe da tal colega de Inês, e ela confirmava que a minha filha iria lá ficar e para além de tecer grandes elogios a Inês, dizia-me que tinha muito gosto na amizade das nossas filhas.
Foi á pouco tempo que descobri que nunca falei com a mãe da tal amiga. Era essa amiga que se fazia passar pela sua mãe.
As duas diziam ás mães que iam dormir na casa uma da outra, quando na realidade iam para a discoteca.
A Inês nunca me omitiu que ia á tal discoteca, uma das mais conhecidas em Lisboa e na Europa.
Nesta altura a minha filha tinha 15 anos.
Foi aqui que me começou a falar de drogas. Foi aqui que fez uma tatuagem ás escondidas na anca e começou a tornar-se mais distante.
Sou divorciada.
Dizem que isto terá influenciado. Não sei até que ponto isto será verdade.
Tive duas filhas.
Joana e Inês.
Dizem que a educação conta e a forma que foram criados também. As pessoas dizem que as meninas bem-educadas nunca tocam nas drogas ao contrário das mal-educadas.
Pois bem, eu tenho duas filhas, com a diferença de um ano entre si. Criei-as exactamente da mesma forma e, não têm nada a ver uma com a outra.
Joana sempre foi extrovertida.
Fala com toda a gente, conhece toda a gente.
O minha filha trabalha com eles e anda por ai feliz da vida.
É uma rapariga bem-disposta, mas quando lhe falamos em Droga, ela até muda de cor.
Fuma muito, dois maços por dia quase, mas droga, ganhou-lhe horror no dia em que descobriu a irmã desmaiada na casa de banho e com uma seringa cravada no braço.
Joana pouco fala na irmã. Despreza-a.
Diz-me que o melhor é ela morrer, diz que ela só nos trás desgostos e preocupações. Gastamos muito dinheiro com ela. Dinheiro esse, que não temos.
Até empréstimos ao banco eu pedi para a meter num centro onde se faziam tratamentos.
Sinceramente, acho que seria melhor ela morrer.
Já perdi o marido, e consolei-me, já perdi os pais e arranjei-me. Não seria por perder a filha que me deixaria ir abaixo.
Claro que não a vou abandonar enquanto estiver viva. Ao contrário da Joana, que quando sabe que Inês está em casa nem sequer lá vai. Eu vou lá e fico com ela.
Dou-lhe dinheiro para a droga. Os vizinhos também. E depois cobram-me esse dinheiro. É compreensível.
Todos sabem que ela se droga e se prostitui e não querem ver as suas casas assaltadas por isso dão-lhe dinheiro. Têm medo que ela se vire contra eles e lhes faça algum mal. Em contra partida, acham que não há motivo para ficarem sem o seu dinheiro e por isso pedem-mo de volta.
Eu dou dinheiro á minha filha .Sei que não devia dar-lho para a droga mas não a consigo ver sofrer daquela maneira, quando não consome.