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Parte de Mim
Decidi finalmente livrar-me de ti de forma definitiva.
Procurei uma caixa para colocar lá todos os teus pertences, réstias de ti, que ainda andavam espalhadas por aí, como fantasmas alados que teimam em permanecer, negando a sua condição.
“Não deve ser preciso uma muito grande” – pensei eu – “Já passou tanto tempo…”
Coloquei-a em cima da cama e semi-deitado ao lado dela, comecei com calma, sem qualquer tipo de pressa, a colocá-los lá, um por um…
Comecei pelas tuas palavras.
Espalhadas por todos os cantos, pondo todos os meus espaços em completa desordem, fui recolhendo-as e com jeito, com um certo carinho nostálgico, acomodando-as uma a uma, sobre o fundo da caixa. Como é possível? Como é possível que fossem tantas? Em todos os lugares, todos os objectos, todas as lembranças, todas as memórias estavam palavras tuas…
Encheram quase toda a caixa. Fui procurar uma maior.
Coloquei a maior ao lado da primeira, despejei nela todo o conteúdo e continuei…
Passei para as frases.
Aqueles pedaços da tua voz que guardava ainda no vibrar dos meus tímpanos, rabiscados nos meus sentimentos, das quais tantas vezes me lembrava…
Tinhas o dom da palavra e esse hábito de verbalizares frases que deixavam em mim, marcas da tua presença. E até agora, eu ainda não me tinha apercebido do quanto e do tantas que elas eram…
Já não couberam todas na nova caixa! Tive de tratar de arranjar outra ainda maior.
Coloquei a maior agora no chão e despejei uma vez mais, todo o conteúdo da anterior e continuei…
Voltei-me para as imagens.
Desfolhando o álbum de nós, as imagens de ti gravadas na memória, foram passando como um show de slides. Um show que parecia não ter fim… Tinha imagens de ti em tantos lugares, tantas situações, tantas emoções… imagens de ti… imagens de nós…
Imagens das tuas mãos (das tuas mãos nas minhas), dos teus olhos (onde via reflectidos os meus na envolvência de um beijo), dos teus lábios (embrenhados nos meus, passeando-se pela minha pele), dos teus braços (envoltos em mim, nos nossos abraços)…
Foi quando me apercebi que as minhas memórias eram as nossas memórias e apesar de fazer um esforço nesse sentido, não consegui encontrar nenhuma da qual não fizesses parte…
Uma caixa não serve definitivamente. Terei de arranjar um caixote e desta vez, trarei o maior que arranjar.
E foi no jardim que continuei a limpeza.
A primavera deu-me o mote para a próxima secção: os odores.
Como tenho tão presentes em mim ainda os teus odores. Lembro-me do toque de cada essência do perfume que colocavas pela manhã, do perfume que colocavas para sairmos à noite, do odor de ti que deixavas na almofada, do odor de ti que ficava impregnado na tua roupa, mas sobretudo: do odor que a tua pele emanava! A tua pele acabada de sair do banho, a tua pele orvalhada no final das nossas danças a dois, sempre tão íntimas, sempre tão diferentes, sempre tão… nossas! As danças… as músicas… Tantas!!!
E então os sons!
Eram tantos os sons que guardava de ti. Para além dos teus sons, esses que emitias no esgar da intimidade de um Amor feito a dois corpos fundindo-se num só, para além desses sons… impressionante… tenho presentes em mim até os sons do teu quotidiano! O som de ti enquanto lavavas os dentes, sempre com os mesmos gestos, ao mesmo ritmo, em que as cerdas da escova desfilavam notas monocórdicas em uníssono; o som de quando lavavas as tuas mãos (essas mãos…) em gestos mecanizados e propositados; o som da fivela do teu cinto a tilintar enquanto vestias as calças; o som do correr do fecho das botas enquanto o cabedal se moldava ao formato das tuas pernas; o som da escova no teu cabelo, em sons curtos e decididos… Mas sobre todos… o som do teu sorriso… esse som mudo, dos lábios a arquear e a entreabrirem-se, desvendando o branco brilhante do esmalte dos teus dentes perfeitos…
Incrível como por vezes, somos ultrapassados pelos momentos, trespassados pelos sentimentos, sem que de tal nos apercebamos.
Comecei decidido a livrar-me definitivamente de ti,
E nesse processo,
Fui mergulhando cada vez mais fundo em mim,
Encontrando-te nos mais recônditos recantos do meu ser.
Enchi caixas e caixotes com os teus pertences,
E agora…
Nas caixas que foram ficando cheias ao longo do processo,
Nos caixotes nos quais coloquei todo e cada pedaço de ti,
Vejo,
Que não é apenas de ti que me estou a livrar,
Não és apenas tu, retalhos de ti, que estão despojados neles,
Mas todo um EU,
Que sem ti,
Fica tão absurdamente vazio…
Detenho-me e observo-os.
Observo-os e decido.
Esvazio os caixotes.
Despejo-te de novo em mim.
Tudo o que de ti ficou,
Tudo o que de ti existe…
Ficará assim…
Para sempre…
…como Parte de Mim!
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Comentários
Re: Parte de Mim
Qualquer coisa de excepcional.
Re: Parte de Mim
com o tempo, acredito que o "outro" acaba por se descolar.
gostei muito!
Re: Parte de Mim
Quando é verdadeiro é sempre assim.
De uma forma ou de outra sempre fica.
Muito bom este conto.
Beijinhos