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Piano

Há 3 segundos que olhava para aquelas teclas do piano que as suas mãos dedilhavam, sem conseguir perceber.
Que música era aquela que estava a tocar, que não conhecia, mas que tão agradável e naturalmente estava a sair?

- Chamaste? (perguntou uma voz grave, femininamente grave, quase num sussurro)

Levantou os olhos do teclado do piano de cauda que fazia 2 anos tocava naquele bar, daquele hotel à beira mar. Levantou os olhos quase num sobressalto e vislumbrou-a, linda, quase perfeita, encostada ao piano com o copo na mão e o corpo embalado ao som da música – daquela música.

- Desculpa?
- Perguntei se chamaste!
- Eu?
- Sim… com essa música!

Não estava a perceber.
Quem era aquela mulher que nunca vira antes por ali?
Quem era aquela mulher que até uns instantes antes não tinha visto pelo bar?
Como apareceu ali tão repentinamente?

- Com esta música? Mas eu nem sei que música é esta! Estava precisamente a tentar descobrir isso!
- Não percas tempo! Essa, é a nossa música!
- Nossa? Nossa de quem?
- Minha e tua e de todos os que amam.
- Mas, eu nem te conheço!
- Conheces sim! Senão, como estarias a tocar essa música?

Desviou o olhar novamente para o teclado, à procura de algo que lhe indicasse que música era aquela, algo que lhe desse algum indício de como e porquê, continuava a tocar com tanta naturalidade aquela música que lhe sendo completamente desconhecida, lhe soava a tão familiar.
Não conseguiu! Nada lhe dava a justificação para o que estava a acontecer.
Confuso, levantou de novo os olhos para a mulher, que… já lá não estava, apenas o copo ficara.

Instintivamente olhou para praia e viu o seu vulto, que caminhando em direcção ao mar, entrou pela água, sempre caminhando, até que, desapareceu por completo coberto pela água.

Chamou o empregado e perguntou-lhe se conhecia a mulher que havia estado ali a conversar com ele.

- Mulher? Que mulher? Não vi mulher nenhuma!

Ficou ainda mais baralhado. Tão baralhado, que parou de tocar.
Quis recomeçar, mas não sabia como. Não sabia que música era, não a conhecia.
Terá sido uma alucinação? Terá sido um “sonho”? Mas como é que é possível? Ele continuava ali, onde estava desde a hora do jantar.
Vasculhou o seu livro de pautas, tentando encontrar aquela música, mas em vão.
Não sabia o nome, não sabia o autor, vendo bem… já nem sabia como era!

Enquanto se encaminhava para o carro, teve um impulso de ir até à praia, ao local onde a avistara a entrar no mar. E encontrou, desde a varanda do hotel, um caminho de pegadas feito, que entravam no mar.

Cada vez mais confuso e incrédulo com o que lhe estava a acontecer, entrou no seu carro, rebateu a capota para trás e rolou em direcção a casa, com a brisa marítima a povoar-lhe os sentidos e sentindo em todo o seu corpo, novamente, a presença daquela mulher. Parou. Parou virado para o mar e sentiu a crescer em si, o desejo de, também ele, entrar naquele mar, naquele banho de sensações e vontades que não paravam de aumentar. Não resistiu e tirando apenas os sapatos, foi isso mesmo que fez.

Quando estava já completamente rodeado pela água, por um instante, apenas um instante, fechou os olhos e deixando-se levar pela sensação de plenitude que todo aquele mar lhe provocava, deitou-se de costas, ficando a flutuar.
Quando os abriu, viu, a seu lado, aquela mulher!

A seu lado, ali, na cama.
E aquela mulher, de mistério feita, tão bela, tão perfeita, era a sua, companheira “de sempre”, que tão bem conhecia, mas que há muito, não “via”!

Não teria tudo passado de um sonho?

Não interessava, tinha “reencontrado” o seu amor, tinha-se reencontrado de novo com a vida, e isso, bastava-lhe.

Beijou-a com um sentimento até então, ele próprio adormecido e abraçando-a, de novo caminhou em direcção à terra dos sonhos, onde tudo é possível, até mesmo, reencontrar o amor!

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sexta-feira, março 7, 2008 - 10:58

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FPaixao

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Comentários

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Re: Piano

Gostei.
Muitas vezes está tudo ao nosso lado, mas não nos apercebemos e acabamos por andar a procurar algo que se encontra longe, ou que nos é exterior.

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