QUAL LÍNGUA SE DESENROLA EM ESPINHO


Gente estranha, multidão
que se entranha nas fissuras da calçada.

Passo em sola calada
qual língua se desenrola em espinho.

Caminho em serpente,
de repente em sombra se tomba o olhar
sobre a escravidão do sangue nas veias do mar.

Cantar sem fio, bocas
como conchas em rodopio sem pio. Loucas.

Mãos roucas, corpos em cardume
numa ampulheta de areias em lume.

Horas sem cume,
voltas sem pão de agoras às cambalhotas.

Árvores devotas ao arbusto que delas resta.

Janelas como frutos de aresta mordida,
semente ladeira pelos putos idos do tempo.

Palavra ausente, arco-íris
assente sem curva como ponte turva.

Margem de paisagens rasas,
brasas de vida e morte como sonho sem porte.

Realidade como corte medonho.

Grito em vaidade parida de um ventre de ventos.

O sol como caracol sem norte,
a chuva como saia onde desmaia o riso do ser.

Beijo sem métrica,
arrepio como guitarra eléctrica na pele.

Salivas de mel como cigarra na noite,
as estrelas como piano açoite por saudade.

A madrugada como flor,
o amor como espada empunhada pelo escuro.

 

Submited by

Friday, September 2, 2011 - 19:05

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 9 years 33 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Comments

SuzeteBrainer's picture

Palavras que refletem o curso

Palavras que refletem o curso do rio da vida,mas com a beleza da tua poesia sempre...

"Salivas de mel como cigarra na noite,/ as estrelas como piano açoite por saudade."

Abraçosmiley

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 8.507 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 47.160 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 6.854 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 6.877 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 6.711 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 6.584 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 7.121 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 7.000 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 5.629 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 5.377 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 5.304 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 6.041 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 4.730 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 6.033 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 5.458 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 4.554 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 5.621 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 5.352 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 6.288 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 4.174 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 4.918 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 5.541 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 4.367 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 6.314 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 5.836 01/16/2015 - 20:47 Portuguese