Continuo mo(vi)mento
Quanto tempo já passou?... Segundos, horas, dias, semanas, meses, anos?... Milénios?...
Vive num constante ciclo de repetitivas mudanças. Agora, eternamente entediado observa o mundo a copiar-se, época atrás de época. Passado, presente e futuro misturam-se em memórias cruzadas.
Por isso, o longo e distante futuro passou-se ainda agora. O distante e longo passado ocorreu ainda há pouco. E, parece que ainda agora a Coisa se aproxima dele, sorrateiramente e sossegadamente, a sugerir-lhe a eternidade.
Tão simples, tão banal, como oferecer um doce a uma criança. Irrecusável para um pobre velho acabado como ele.
– Viverás para sempre. – Disse-lhe Ela. – Poderás experimentar tudo na vida, sem medos e restrições. Mas, a partir do momento que te fartares, guardarei a tua alma.
Quem é que com liberdade para viver eternamente se cansará da vida? - Pensou ele ingenuamente. E, ingénuo, aceitou o logro da proposta.
A partir daí provou todos os tipos de prazer.
Mais tarde, percebeu que podia deixar de direcionar os instintos básicos para a concretização intelectual. Já não precisava de se preocupar em sobreviver e aos poucos, afundou-se no prazer carnal.
Passou do normal para o fetiche, do fetichismo para o sadismo e masoquismo, do sadismo e masoquismo para morbidez. Cada forma de prazer foi-se desvanecendo e a repetição do seu clímax foi-se tornando vulgar. É como fumar 40 cigarros por dia. Fuma-se só porque se fuma, sem se tirar nada disso. É como comer 100 chocolates até vomitar enjoado.
Pouco lhe falta para a sociopatia e psiquismo. A dor é prazer, o prazer é dor.
Cansado… Aguarda… antes de se dissipar e despersonalizar na loucura. A noite vai-se prolongando, projetando e desenrolando ao seu redor. Sentado no meio do campo aberto, aquece-se nas brasas alaranjadas. E, sem prestar atenção continua… esperando…
A Coisa sabe. Já o sabia antes. Por isso, há-de aparecer sem ser chamada, pois, já é desejada.
Uma brisa levanta levemente o fogo e ele ouve atrás de si o Seu suave sussurrar.
– Então?... É tempo. – Diz-lhe.
– Já é mais que tempo. – Responde despreocupado.
A Coisa aproxima-se, pousa a mão no seu ombro. – Não doerá. – Garante-lhe Ela.
– Que importa?...
Foi-se sentindo sonolento… Enquanto olhava para o céu, o dia iniciava o seu despertar. O sol erguia-se ao fundo, pintando em tons violeta as brancas e leves nuvens. O azul clareava, abrindo as cortinas para o horizonte, mágico. O espanto voltou-lhe a bombear, naquele lugar físico gasto, e antes de adormecer falou. – Pára… Pára o momento… Imobiliza o tempo…
Submited by
Friday, April 20, 2012 - 17:45
Prosas :
- Login to post comments
- 462 reads
other contents of vsmario
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Thoughts | Divações | 0 | 885 | 03/22/2014 - 17:56 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Objeto | 0 | 1.022 | 02/02/2013 - 20:17 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Só assim irás nascer | 0 | 873 | 02/02/2013 - 20:15 | Portuguese | |
Críticas/Miscellaneous | Factura?... | 0 | 1.389 | 10/18/2012 - 21:26 | Portuguese | |
Prosas/Contos | O quarto escuro | 0 | 1.021 | 10/09/2012 - 16:10 | Portuguese | |
Críticas/Miscellaneous | Quem é que nos fodeu a todos? | 1 | 1.588 | 10/04/2012 - 17:43 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Onde devia estar | 0 | 881 | 10/03/2012 - 18:13 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Vai ficar tudo bem | 0 | 1.174 | 09/18/2012 - 21:02 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Vazio | 0 | 939 | 09/18/2012 - 20:49 | Portuguese | |
Poesia/General | Mata esta sede | 0 | 1.303 | 09/18/2012 - 20:43 | Portuguese | |
Poesia/General | Nascer de novo | 0 | 973 | 09/10/2012 - 17:17 | Portuguese | |
Prosas/Erotic | Anseio | 0 | 1.083 | 09/04/2012 - 22:31 | Portuguese | |
Prosas/Others | Brinca com o meu coração | 0 | 853 | 08/08/2012 - 21:05 | Portuguese | |
Prosas/Erotic | Desejo solitário | 0 | 955 | 07/23/2012 - 02:05 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Minha terra | 1 | 1.116 | 07/07/2012 - 22:24 | Portuguese | |
Poesia/Passion | donzela | 1 | 1.124 | 07/06/2012 - 16:56 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Um tiro no ar - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.022 | 05/18/2012 - 00:41 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Merdas que me atrasam a alma - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 992 | 05/18/2012 - 00:37 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Felicidade cíclica - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.100 | 05/16/2012 - 19:12 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Verão - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 934 | 05/16/2012 - 19:10 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Plásticos II - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 0 | 1.144 | 05/11/2012 - 20:32 | Portuguese | |
Prosas/Saudade | Minha terra | 0 | 1.293 | 05/10/2012 - 17:59 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Lá fora... | 0 | 1.035 | 05/10/2012 - 17:24 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | O mundo gira sempre para o mesmo lado? - “Colecção Obsessiva de Sentimentos” | 1 | 937 | 05/09/2012 - 23:09 | Portuguese | |
Poesia/Love | Quem quer? - "Colecção Obsessiva de Sentimentos" | 0 | 1.147 | 05/09/2012 - 22:54 | Portuguese |
Add comment